Minutos depois da vitória de quarta-feira, extraída da perseverança ilimitada dos seus comandados, o técnico do Paraná Clube declarou: "Agora temos de pensar no Coritiba, que é o mais rico [elenco de profissionais] do campeonato". Toninho Cecílio falou uma verdade e achei interessante o uso do adjetivo. A riqueza do adversário no dizer do treinador está no potencial financeiro. Na folha de pagamento, que tem um alto custo dentro da realidade do futebol paranaense.
Riqueza dentro da sociedade capitalista que ora se vive, passa para a maioria o sentido de poder e superioridade imbatíveis. Seria então o Coritiba superior e favorito para o clássico de amanhã? Claro que não. Dispenso até o bordão futebolês "clássico é clássico". Se no caixa, na folha e no valor dos atletas o Coxa sai na frente, o Tricolor acumula na riqueza das relações humanas e está conseguindo isso sei lá como , um capital precioso.
Existe uma coisa chamada qualidade de vida, onde não é apenas o dinheiro que entra em cena. Qualidade de vida envolve o bem espiritual, físico, mental, emocional, além de relacionamentos sociais, com a família e amigos. É o que nos aproxima da felicidade, que no fundo é o mais importante. (A Noruega, por exemplo, lidera o ranking do Índice de Desenvolvimento Humano, bem à frente dos Estados Unidos e muito distante da China, maiores economias do mundo). O Coritiba também teve essa qualidade de vida, fruto da reorganização e equilíbrio de caixa. O Paraná trouxe Ricardinho e ressuscitou. Hoje, sem ele, passa uma imagem de bem-estar, prazer e alegria, o que em suma vem a ser qualidade de vida. Ah, com um dinheirinho no bolso, melhor ainda.
O Paraná tem objetivos claros e uma força interior de superação. Melhorou bastante tecnicamente Anderson, Alex Alves, Lúcio Flávio, Conceição, Henrique e outros de boa qualidade. E o treinador é inteligente. O Coritiba é maduro, sereno e recheado de talentos. O técnico Marquinhos Santos busca na decoração da parede da sala nobre seu meio de campo a harmonia ideal para a distribuição dos quadros, depois de recuperar sua tela mais valiosa: Alex. Falta ainda o ajuste final.
A riqueza do futebol não está necessariamente num jogo de Copa do Mundo ou em decisões de títulos. Nem no dinheiro despejado. Há momentos significativos em determinadas partidas que as tornam especiais e ficam na memória. O clássico de amanhã revive os grandes momentos da Vila Capanema.
Clemente
Estive nesta semana com o casal Lia e Adriano, mergulhados num passado marcante do jornalismo esportivo. O encontro não foi na Vila, mas Lia, filha do nosso querido e saudoso Clemente Comandulli, pareceu regar com lágrimas de saudades o mais perfeito gramado da época, onde seu pai correu como atleta e pisou como jornalista: o campo de Ferroviário.
Meu tributo ao casal e minha louvação ao colega e amigo Comandulli, ex-colunista da Gazeta do Povo