Nunca antes no mundo louco da bola, assisti virada tão fulminante como a de quinta-feira. Aliás, vi sim, mas há 50 anos, no verão de 1963, também no Rio de Janeiro. O Santos, sem Pelé e Zito, tomou dois gols do Milan logo no começo da partida. Com muita chuva estava em jogo o título mundial interclubes (na Itália, o Milan ganhou por 4 a 2). No segundo tempo, endiabrados, Pepe, Lima, Almir e companhia, fizeram quatro gols em 20 minutos e ganharam a partida. Virada semelhante. Mesmo resultado. Mesmo palco de Flamengo e Atlético: Maracanã.

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O massacre atleticano não foi por acaso. Se o Flamengo tem um dos maiores orçamentos do país, o Atlético projeta e executa, desde a criação do CT do Caju, um profissionalismo avançado. Os cariocas, por outro lado, se deslumbram com o irreal dentro de uma pífia organização. O dinheiro é uma coisa neutra. Nem bom nem ruim. O que importa é o que fazemos com ele. Isso explica em parte a virada histórica de quinta-feira no Maracanã, mas não é tudo.

Vagner Mancini nocauteou Mano Menezes colocando Dellatorre e Roger. A melhor defesa, no caso, foi reforçar o ataque. Aberto e cheio de espaços, o jogo ganhou assustadora velocidade, quesito onde o Atlético deu um show de resistência e técnica. Mano foi lento para mudar e precipitado para sair. Mancini é calmo e corajoso. Mancini atacou; Mano correu.

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No segundo tempo o Atlético foi majestoso. Até mesmo Maranhão, perdido no começo, esteve bem. Todos jogaram muito. Everton, Léo e Manoel, soberbos. Quem fez a diferença, porém (outra vez), foi Marcelo. No pior momento do jogo, ziguezagueou com rara habilidade antes de nascer o gol do espanhol. Foi uma espécie de massagem cardíaca que deu vida para a mudança – de atitude e de placar. Foi dele ainda o terceiro, o gol da vitória. Marcelo lembra o francês Henry, nosso carrasco na Copa da Alemanha. Está jogando demais.

O Atlético teve, é bem verdade, um apagão no começo do jogo. O clima de festa, cores, palco iluminado, induziu para o descuido. A defesa tomou dois goles (sic) e caiu no manjado golpe "boa noite Cinderela" – jargão policial usado para quem perde a noção das coisas, fica lelé da cuca, adormece, etc. – aplicado sem dó e sem dolo pelo Flamengo. Sorte do Atlético que tem no seu staff um carioca vivido e ex-delegado: Antonio Lopes deu o flagrante e Mancini sacudiu a moçada.

Foi uma vitória iluminada. Por ser o Flamengo, pelo palco majestoso e pela forma ousada de se impor no campo. O Atlético está de bem com a vida. Transmite confiança, alegria, descontração. É um elenco seguro. E segurança vem do conhecimento da nossa essência verdadeira. Que acorda a tempo de reagir e nocautear. Mesmo depois de sofrer "boa noite Cinderela".

Nada acontece por acaso.

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