O show business de ontem, tendo como pano de fundo o sorteio para a Copa, foi um abuso de desperdício. Custa-me crer que foram torrados R$ 26 milhões para uma programação de duas horas. Tão cínica quanto os gastos de Collor, apresentando em Barcelona a candidatura de Brasília para sediar os Jogos Olímpicos. Se a Fifa entrou com R$ 20 milhões e o governo baiano com seis, pouco importa. Foi um acinte para a sociedade como um todo, e com a insensatez de proibir até a venda de água de coco.

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Uma bem estruturada apresentação no teatro municipal do Rio, por exemplo, seria muito mais elegante e menos onerosa. O diabo é que quando há nebulosidade, os senhores dos anéis preferem a clausura. Ninguém bota a cara ao lado do povo.

Hão de dizer, mas o que importa não é o sorteio? Sim, o que importa é o sorteio, desde que não se faça dele um espetáculo nada descontraído como o de ontem. "Aquarela do Brasil" e "Garota de Ipanema" são músicas emblemáticas do país. Houve-se em qualquer canto do mundo. Os estrangeiros abrem um sorriso e assobiam essas obras primas de Ary Barroso e Tom Jobim. É identidade nacional. Os doutorados da música as excluíram da apresentação de ontem, com transmissão para cento e tantos países do mundo. Incluíram, entre outras, o choro de Pixinguinha "1 a 0". Gostoso, é verdade, mas sem apelo cósmico. Foi um show milionário e seco.

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Quanto à composição das chaves, pouco a acrescentar. Falou-se muito em "grupo da morte", bordão criado quando a Copa do Mundo era disputada por 16 seleções. Para ganhar o primeiro título na Suécia, a primeira fase brasileira foi duríssima: Áustria, União Soviética e Inglaterra. No bicampeonato também: México, Tchecoslováquia e Espanha. Naquele tempo, com raras exceções, não havia espaço para Austrália, Irã, Honduras ou Argélia. Isso não mais existe. Hoje a primeira chave cria expectativa apenas nas cidades-sede e para as seleções de níveis médio e fraco, com alguma possibilidade de continuar. Para quem quer o título, essa fase é um aquecimento. Uma pré-temporada. Difícil é não se classificar.

A Copa é um torneio – para quem pensa no título – que se restringe a três jogos de preparo. Depois tem de vencer quatro jogos seguidos. Pelo sorteio de ontem, penso que o Brasil deva começar o mata-mata contra Chile ou Holanda, e na outra etapa (as "quartas" sempre foram terríveis) deva cruzar com Uruguai, Inglaterra ou Itália. Passando, ganha o título. Mero e ousado palpite.

Já para a nossa bela e autofágica Curitiba, ficou a raspa do tacho. Irã, Nigéria, Honduras, Equador, Argélia, Rússia e Austrália. A Espanha, uma das favoritas ao título, pode jogar aqui já classificada. Espero que não. Os deuses da bola destinam o que plantamos.