Prefiro falar do Santos. O Barcelona é o Bolero de Ravel – harmonioso, dinâmico, interminável. E com Neymar a melodia catalã segue um crescendo progressivo, o mais longo do futebol atual. O massacre de ontem no Camp Nou só me traz boas recordações. Não há como esquecer do Santos da década de 1960, que encantou a todos jogando em várias partes do mundo.

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Para quem sabe daquele Santos apenas por ouvir falar, ou através de pesquisas pela internet, sem a divina graça tê-lo visto a olho nu, posso afirmar que o 8 a 0 imposto pelo Barcelona foi ótimo. Ótimo no sentido de dimensionar aquilo que a imprensa do planeta bola definia: "O Santos é o próprio futebol". O placar de ontem, entre tantas goleadas históricas, me faz lembrar um tira-teima com o Racing, campeão argentino de 1962. Na época os amistosos tinham um apelo até maior do que jogos oficiais, e a rivalidade contra os argentinos sempre foi feroz.

O Santos começou diabólico e em 11 minutos já vencia por 3 a 0, com dois de Coutinho e um de Pepe. Depois do quarto gol, o Racing reagiu. Frio, porém, sem se abalar com a fúria argentina, Pelé e orquestra fizeram mais quatro no histórico 8 a 3. Arrasador. Humilhante. Contra o campeão argentino, lá em Buenos Aires.

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Não sou saudosista. O equilíbrio na apreciação de fatos de diferentes épocas é fundamental. Penso que, isento de apegos, dá sim para traçar paralelos quando se trata de genialidades. Como Noel Rosa e Chico Buarque navegando no mesmo barco, por exemplo. O Santos, é bom lembrar, teve uma absurda volúpia ofensiva durante mais de dez anos, jogando e goleando longe de tudo – da Vila, de São Paulo e do Brasil. Até porque jamais construíram o teatro com a acústica que ele merecia para seus recitais.

E o Santos de hoje (ou de ontem)? Que mal lhe pergunte, por um mero acaso, não lembrou o Taiti? Até certo ponto sim, mas o Taiti veio para alegrar a festa. O Santos não. O Santos foi um time serviu, subserviente, medíocre. Apequenou-se até pelo estádio do adversário. Quantas saudades de Zito, Mauro, Mengálvio, Gilmar! Vendo o Santos de ontem, juro que canonizaria Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. Divindades puras. Enfim, tudo passa. Ficam, em preto e branco, os retratos da vida. Agora quem dá a bola é o Barça.

Os três mosqueteiros

Agrada-me a prudência de Vagner Mancini, a audácia de Marquinhos Santos e a paciência de Dado Cavalcanti. Mancini tem usado o bom senso. Começa a dar cara ao time. A prudência é um exercício sadio. Diferente da cautela. Marquinhos mexe melhor do que escala. Tem ótima leitura de jogo. Sem Alex e contra um Cruzeiro forte, é um desafio. Audácia não é ousadia. É inteligência.

Dado sabe lidar com a paciência exigida pela Série B. Tem a virtude de manter o controle emocional para alcançar a necessária vitória fora de casa.

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