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Curitiba estava com sua antiga cara no dia do seu aniversário: cinzenta e sóbria. Minutos depois saiu o sol. Veio então aquela garoa fina. Esfriou um pouco. Enfim, todas as estações do ano num só dia. Clima tipicamente curitibano. Mas a cidade mudou muito e as pessoas também.

Talvez o poeta e jornalista Hermes Fontes, quando carinhosamente publicou um artigo na Gazeta do Povo com o cognome "Cidade Sorriso", tenha tido suas razões, mas não sei exatamente quais. A cidade é encantadora, mas nós que nela vivemos, pelo menos nos dias de hoje, não somos tão sorridentes não. Acolhedores sim, pois pessoas vindas dos mais diversos lugares aqui se estabelecem.

No dia do aniversário da "Cidade Sorriso", há exatos 58 anos, foi fundado o Diário do Paraná. Esta semana participei de mais um encontro de três gerações daquele antigo jornal. Ribas, Dias, Zaruch, Mazza, Túlio, Bittencourt, Marian... tantos amigos relembrando momentos bons e bizarros. No ano passado dividimos a mesa com Vinícius Coelho e Ivo Chiarello, que meses depois transcenderam. Seguem os mistérios da vida que é eterna, mas com suas expressões efêmeras, momentâneas. Com seus momentos preciosos, mas transitórios. Tudo é muito rápido e nós caminhando lentos como uma tartaruga. Trocando o essencial pelo supérfluo.

Esses dias santificados devem servir também para reflexão. Acho que devemos ver as coisas além das aparências. O tempo é inexorável. Fé ou religião à parte, a Páscoa celebra mudança, passagem, ressurreição. O futebol brasileiro sempre foi visto pelo seu brilhantismo e pureza. Foi um orgulho para todos. Hoje, entretanto, laivos de ódio e ganância pipocam nas entidades, clubes e afins. O remédio é uma tomada de posição dos puros, dos intelectuais da bola, através de fóruns e encontros práticos.

No livro O Ócio Criativo, o sociólogo italiano Domênico De Masi, um dos maiores pensadores vivos da atualidade, e apaixonado pelo Brasil, diz que o nosso país apresenta as melhores condições de ser o líder na transição pacífica e bem planejada para o capitalismo moderno na Era Pós-Industrial. Mas que para isso os intelectuais de todo o mundo devem sair da toca e colocar a cara para mudar o planeta.

Espero que isso se estenda ao futebol. Rafael Iatauro, por exemplo, foi o concorrente com visão mais aguda e sabedoria para presidir a FPF. Nosso futebol seria outro. Raí tem o perfil idôneo e aberto para o comando da CBF. Romário tem surpreendido na Câmara. Com trânsito e poder, tem sido o porta-voz do povo para assuntos do esporte na política.

O ócio criativo a que se refere De Masi, nada mais é do que o tempo livre que passamos parte de nossos dias e no qual devemos centrar nossas potencialidades. Sendo assim, que o ócio do feriadão faça com que os intelectuais, os puros, os bem intencionados amantes do esporte, se sintonizem para erguer a cruz da salvação do futebol brasileiro, hoje dominado pelos vampiros da bola.

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