Recebi um correio eletrônico da leitora Ana Maria sobre a diferença de antes de a Copa começar e agora. "Antes", diz ela, "era o Dunga isso, o Dunga aquilo. Agora todo mundo está torcendo, e a questão não é mais se o time é bom ou ruim. É o nosso time e a gente torce até o fim". E ela continua: "aqui de longe vale tudo, figa, pé de coelho, galho de arruda atrás da orelha. Todos os santos podem ajudar".
Às vezes mais vale simplificar do que traçar teorias ou tricotar conceitos táticos. Principalmente numa Copa, em que crianças, mulheres e a população em geral, incorporam um sentimento único, pelo simples fato de compartilhar prazer e alegria com a seleção mais famosa do mundo.
Confesso que pouco entendo de rúgbi, culinária ou de coral sacro, erudito e clássico. Um naipe de barítonos, tenores e baixos está para mim como um primeiro volante, apoiador ou meia de ligação para outros. Percebe? Assisti "O fantasma da ópera", "Cats", o "Ballet de Bolshoi" e gostei. Fez bem para a alma, naveguei no tempo, esqueci o mundo. Mas não saberia entrar em detalhes técnicos.
A tendência da vida é encurtar caminhos, simplificar. Arthur Moreira Lima, o mais popular, versátil e completo dos intérpretes clássicos brasileiros, o Pelé do piano, respeitado nos maiores templos da música erudita, percorre o interior do Brasil para dizer, com a linguagem das teclas, que o popular e o clássico são almas gêmeas e podem se entender. Se um artista sensível e iluminado como ele facilita a compreensão do leigo, porque nós devemos complicar?
O torcedor é tão crítico quanto o crítico especializado é torcedor. Por isso deve extravasar, sim, a sua emoção. O Brasil joga hoje contra Costa do Marfim e se ganhar estará dentro da verdadeira Copa, que resume-se em quatro jogos para, vencendo todos, ser campeão. O final de um discurso é o segredo da oratória. E o ritmo de um espetáculo não é frenético do começo ao fim. O importante é passar hoje para, então, sim, modular a voz dos solistas Kaká e companhia para o grand finale. Com beleza. Com simplicidade.
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