Depois de acompanhar os três primeiros jogos da Copa a abertura ao vivo e os de ontem pela televisão aqui do Rio , percebo uma espécie de contágio emocional coletivo. Um acoplamento de energia oriunda dos protestos que se arrastam pelas ruas do país, entrando agora pelas arquibancadas dos estádios e descambando nos gramados.
Há um clima de tensão que pode ser confundido em alguns momentos com euforia. No campo, muita briga pela posse da bola, choques, maçarocas e erros grotescos de arbitragem. O senhor Nishimura, que prejudicou a Croácia, perdeu o fleugma a partir do momento em que torcida e jogadores brasileiros quebraram o protocolo cantando a segunda parte do hino nacional. Dentro da disciplina e da precisão robótica da cultura japonesa, aquele gesto espontâneo e maravilhoso do público no Itaquerão tira qualquer um do prumo.
Os gritos em Natal e Salvador também desequilibraram árbitros e jogadores. Até agora não houve violência, é verdade (felizmente), mas parece que há algo estranho no reino. Ou seria normal a surra que a Holanda aplicou na Espanha? Nas arquibancadas o coral baiano desestabilizou Diego Costa com o cântico homofóbico "Diieeggoooo, viiaaa...". Abrindo parêntesis, um jornalista espanhol que estava na Fonte Nova enviou-me um torpedo naquele momento perguntando o que significava "Dieeeegooo, ilhaaadooo". Respondi explicando que a segunda palavra não era bem... "ilhado". Não sei como será sairá.
Na esteira, o coro uníssono e grotesco contra a presidenta do país pegou mal. É democrático, dirão alguns. Não penso assim. Foi uma falta de educação. Xingamento com palavras chulas é baixaria. Pegou mal. Parece, enfim, um início de Copa com ar de histeria. De nervosismo. Para conseguir entender melhor, minha memória vai para uma música que entoava assim: "Estou preso no trânsito, com pouca gasolina, o calor tá de rachar, e lá fora é só buzina... Isso me dá, tic-tic nervoso; tic-tic, nervoso".
De bom, porém, é a chuva de gols. Média de quatro por jogo. E também o alívio daqueles que queriam ver a Espanha jogando a partida contra a Austrália, na Baixada, pra valer. Ou não. A Espanha pode ser eliminada e jogar de graça em Curitiba, desde que perca para o Chile. Caso isso aconteça, vai provocar um tic-tic, nervoso... tic-tic, nervoso.
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