| Foto: Felipe Rosa/ Gazeta do Povo

Por quatro anos, o futebol do Coritiba se confundiu com o nome de Felipe Ximenes. O superintendente, contratado em 2009 e demitido em 2013, esteve ligado a todos os passos do clube dentro de campo na volta à Série A, no bi vice da Copa do Brasil e na derrocada que quase devolveu o Coxa à Série B. Deixou um legado que, há duas semanas, Anderson Barros administra. Professor de Educação Física, formado em Direito e administrador esportivo pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o carioca de 45 anos, casado, pai de dois filhos que continuam morando no Rio, tem como principal cartão de visitas o trabalho no Botafogo. Um ciclo de quatro anos em que o clube trouxe Seedorf, Loco Abreu e Lodeiro e no qual, sistematicamente, teve de rebater as insinuações de que era flamenguista. Barros trabalhou dez anos na Gávea, mas garante que é Botafogo desde criança.

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No Coxa, ele defende o autoconhecimento como a etapa fundamental para o sucesso do clube e, consequentemente, do seu trabalho como diretor de futebol remunerado – não como gerente, diferenciação de função que ele faz questão de deixar clara.

Por que diretor e não gerente?

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Não é pura e simples vaidade, mas definição da função. É importante deixar essas situações claras.

E qual a função exata do diretor de futebol remunerado?

A grande responsabilidade é a condução do próprio departamento. Hoje não tem como fazer futebol sem o entendimento do que é o seu clube, do que representa no cenário nacional. Aí, sim, você tem condições de competir com qualquer clube. Conduzir esse processo faz parte da gestão do departamento de futebol.

Como o Coritiba está nesse processo?

O Coritiba oscilou nos últimos anos, mas tem um grande potencial e caminha para esse autoentendimento. Podemos perceber que na Europa clubes intermediários começam a participar das finais das grandes competições. Por quê? Porque entenderam que não poderiam competir com clubes mais ricos. Conseguiram montar equipes tão competitivas e puderam chegar às finais. É o conceito que precisamos entender. Nem todos os clubes são iguais.

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Então ver o Atlético de Madrid na semifinal da Liga dos Campeões te mostra um caminho?

É um exemplo. Não é menosprezar, é entender o que representa um clube pelos títulos conquistados, o tamanho da torcida, uma série de variáveis.

Mas o processo do Atlético leva algum tempo. O futebol brasileiro já entende a necessidade desse tempo?

Não existe reformulação imediata. Pode ter certeza de que vai oscilar, mas faz parte do processo. É preciso ser fiel ao que você se propôs. É possível fazer correções, mas sem perder o objetivo.

O Felipe Ximenes foi um profissional muito presente na história recente do Coritiba. É um executivo de futebol que você tem como referência?

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Há grandes profissionais que fizeram grandes trabalhos em diversos clubes. Não são só aqueles voltados para resultados e títulos, mas também para um legado que você deixa para que outros possam dar continuidade e o clube possa trilhar um caminho de crescimento.

O legado do Ximenes no Coritiba é positivo?

Muita coisa foi feita de forma positiva, há outras que precisam ser corrigidas. Até porque se não houvesse correção de rumo eu não estaria aqui.

O cinema criou um certo glamour em torno da função de diretor esportivo remunerado. Qual a realidade da função?

O desgaste é muito grande, a pressão também, mas nós, gestores, também cometemos erros. Não somos onipresentes nem capacitados para tomar todas as decisões sozinhos. Por isso deve-se discutir muito o processo de contratação. Não é como comprar um carro, onde a chance de erro é menor. Envolve muitas variáveis e você não pode se julgar o único capaz de decidir.

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Qual o segredo de uma boa contratação?

Trabalho. Uma contratação é 99% trabalho. É preciso levar em consideração questões técnicas, psicológicas e financeiras. Às vezes você pula essas etapas, pois há a necessidade imediata de fazer a contratação, e aumenta a probabilidade de erro. É preciso se policiar ao máximo para minimizar o erro e não deixar para o clube uma situação difícil de resolver depois.

Como alguém que nunca jogou bola ganha um vestiário?

O atleta de futebol precisa confiar, independentemente de você ter sido boleiro ou sem história nas quatro linhas. Há uma necessidade de transparência, lealdade, representatividade perante eles, tudo isso tem peso. Hoje muitos executivos que não jogaram têm um comando excepcional do vestiário.

Isso evita, por exemplo, que uma carta criticando o presidente do clube vaze, como aconteceu no Coritiba?

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Se há um processo de confiança, não acontece. Momentos difíceis sempre vão acontecer, mas a confiança não pode ser abalada. A situação da carta não deve ser apagada, mas cicatrizada e tratada da forma mais transparente. Se for feito de forma correta, termina o processo com uma cicatriz quase imperceptível.

Ter no elenco um Seedorf, como no Botafogo, ou um Alex, caso do Coritiba, facilita o trabalho do executivo?

É fundamental ter atletas desse nível, com a compreensão do que é o futebol de hoje. Às vezes o gestor tem medo de ter pessoas inteligentes à sua volta. Eu não. Quanto mais gente inteligente em volta, mais fácil o processo, desde que tenha o preparo necessário ou busque essa condição.

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