Um dos mais influentes empresários de futebol do estado decidiu sair de cena. Há duas semanas, Marcos Malaquias anunciou pela internet que não trabalhará mais com jogadores. Deixa para trás um currículo pesado, com as vendas de Rafinha (Schalke 04), Henrique e Keirrison (Barcelona); participação decisiva na transferência de Neymar para a Espanha e uma extensa briga jurídica com o Atlético e Mario Celso Petraglia por causa de Dagoberto. Aos 40 anos, pretende recomeçar com um escritório de consultoria empresarial e financeira.
Por que deixar o futebol?
Minha missão está cumprida. Tudo o que eu quis conquistar no futebol, conquistei. O futebol exige muito de você, priva de estar com a sua família. Mas ao mesmo tempo me proporcionou alegrias, momentos engraçado s e brigas. A maior delas com o Petraglia, por causa do Dagoberto...
Para mim foi muito bom. Me fez aprender muito cedo o que me esperava nesse mercado, como as pessoas agiam. Ele ter me batido tanto me fez muito forte. Sofri, apanhei muito, a torcida não entendia por que eu não renovava. Nunca mais encontrei o Petraglia, mas se encontrasse, diria: "Muito obrigado por ter me perseguido tanto". Como foi o último contato entre vocês?
Nada agradável. O Petraglia deu um soco na mesa e falou que ia acabar comigo. Mas tudo o que ele falou que eu não ia conseguir fazer, acabei fazendo. Só agradeço porque o Petraglia me transformou no que eu fui no futebol. Mas você nunca mais fez negócio com o Atlético.
Nunca. Tenho amigo atleticano que diz que eu sacaneei o time dele. Sempre me doí muito pelos meus jogadores. Quando deu a briga do Atlético, fui lá dentro da Fanáticos dar uma satisfação. Como foi?
Foi uma conversa de homem pra homem. Expliquei por que não ia renovar o contrato do Dagoberto, que não confiava no Petraglia, e o Julião entendeu. O engraçado é que tinha um cabeludo na porta me olhando o tempo todo. Pensei: "Apanhei! Os caras vão me matar aqui!". Na hora de ir embora ele me cutucou e eu gelei inteiro. Ele falou que lavava meu carro numa quadra que eu jogava com o pessoal do Atlético anos antes, que eu sempre o tratava com carinho e respeito. E disse: "Enquanto você estiver perto de mim, ninguém vai te encostar a mão". Na outra semana tinha um Atletiba sub-20 no CT do Caju, Pedro Ken, Keirrison e Henrique iam jogar, e eu liguei para ele. O Petraglia me procurando e eu lá dentro, no meio da Fanáticos com os caras tocando bumbo do meu lado. Você tem muito orgulho das vendas do Henrique e do Keirrison para o Barcelona, mas eles não terem jogado lá deixa a história incompleta?
As vendas para o Barcelona foram emblemáticas. O técnico não quis o Henrique, foi opção do Guardiola. Não tem como interferir nisso. O Keirrison teve uma série de lesões e fatalidades que acabou não vingando naquele momento.
Jogador é muito difícil de lidar?
Eu devo tudo a eles, então não pode cuspir no prato que comeu. Mas tem exceções. Uma pessoa me procurou e pediu ajuda com um jogador do Rio. Liguei para o Sérgio Malucelli e falei que tinha um atacante muito rápido. Trouxe o menino, passei uma semana conversando com ele e mandei para o Iraty. No começo da noite o Sérgio me liga: "Malaquias, não sabe o que aconteceu? O menino pegou as chuteiras de todo mundo antes do treino e fugiu. Pegamos ele na rodoviária, já em outra cidade". Até brinquei com o Sérgio: "Não te falei que o menino era muito rápido?" [risos]. Neymar foi a maior negociação da sua carreira?
Marca porque foi uma das maiores transações da história, por tudo que envolveu. Mas fiquei mais emocionado quando vendi o Keirrison. Busquei ele lá no Mato Grosso, sentei aqui onde a gente está e traçamos todo um plano para ele. Quando fechei o negócio, liguei perguntando se ele lembrava da nossa conversa e falei que o sonho dele estava se concretizando. Aquele momento foi mágico. Como você vê os desdobramentos da venda do Neymar, com a queda do Rosell?
Até onde eu participei está exposto, é o que vocês viram, sempre deixei claro o que eu fiz. Minha política sempre foi de nunca me envolver nessa questão. De contrato, quem recebeu, quanto recebeu, é tudo com o Neymar pai. Você desenvolveu um laço com a família do Neymar, eram vizinhos de praia. Como ficou essa relação?
Eles tocam a vida deles e eu toco a minha. Formamos um laço muito pessoal, mas hoje eles estão na Espanha e meu maior investimento é cuidar da minha família. Ganhou muito dinheiro?
Ganhei. Devo muito ao futebol. Mas uma coisa que me entristeceu é que hoje virou muito negócio. As novas gerações se preocupam mais com a cor da chuteira do que em jogar futebol. Isso me fez tirar um pouco o pé. Um menino da base, que nunca fez um jogo profissional, já chega perguntando quanto vai ganhar. Os empresários não construíram esse cenário?
Os maus empresários, sim. Eu nunca comprei procuração de ninguém, mas a coisa mais normal é comprar. Muitos eu não tinha nem contrato, era na confiança. Mas vai acontecer uma peneira. O caso mais emblemático foi o Jean Chera, que muito se falava fora do campo, mas dentro ainda não fez nada. Culpa do empresário.
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