Kerlon construiu sua carreira a partir da suposição de que se tornaria um craque. Ao ver a repercussão causada pelo drible da foca no Sul-A­­me­­ricano Sub-17 de 2005, o Cru­­zeiro supôs que ele seria um bom reforço para o time profissional e o promoveu. Lá Kerlon teve curtas se­­quências de jogos, seguiu aplicando seu drible invariavelmente em partidas já decididas. Então o em­­presário Mino Raiola supôs que aquele garoto era valioso e pagou 1,3 milhão de euros para tirá-lo do Cruzeiro e colocá-lo no Chievo.

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Foram quatro partidas pelo ti­­me de Verona, nenhuma como ti­­tular. Bastou para a Interna­­zio­­nale supor que valia investir al­­guns mi­­lhares de euros para levá-lo a Mi­­lão. Kerlon jamais jogou pelos ne­­razzurri. Também não disputou uma partida oficial pelo Ajax, ou­­tro a supor que o menino-foca, mesmo com quatro lesões no pron­­tuário, seria um craque (viu apenas mais uma lesão do atleta).

Ao aceitar Kerlon, o Paraná su­­pôs que receberá o craque que despontou no Cruzeiro, sobressaiu-se nas seleções de base, transferiu-se na Itália e de lá para a Ho­­­landa. Tal­­vez sem perceber que esse status foi construído unicamente em cima de projeções e suposições. É um problema co­­mum do futebol. Jogadores são endeusados e avaliados precocemente por aquilo que, imagina-se, possam se tornar. É a cultura do parecer acima do ser levada para os gramados.

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O imbróglio envolvendo Kelvin tem muito a ver com isso. O atacante fez uma dezena de jogos pelo Paraná, mostrou um futebol promissor. Antes mesmo de concluir sua formação física e psicológica, passou a ser avaliado em milhões de dólares.

Chega a ser curioso ver o Pa­­ra­­ná, o pai de Kelvin, o BMG, o Porto, o Atlético-MG e sabe-se lá quem mais levarem à Justiça a discussão sobre aquilo que, na prática, ainda não existe: um craque. Mis­­tura de mercado especulativo e jogo de azar. O dinheiro é investido, os dados são lançados e lá na frente se vê se valeu a pena.

Kelvin e Kerlon têm o talento ne­­cessário para jogar um grande futebol, talvez juntos no Paraná. Mas para que isso aconteça, precisam ser cobrados e avaliados por aquilo que são hoje, não por suposições forçadas apenas para colocar mais um zero no valor do contrato.

Indolência

Não dá para aceitar a campanha do Atlético nesse início de Paranaense. A base do ano passado foi mantida e a diferença de investimento obriga o time a sobrar contra os adversários do interior. Por enquanto, ainda pode ser avaliado como in­­dolência. Mas já começa a permitir o questionamento se o time é tão bom quanto fez crer no Brasileiro.

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Touchdown

Boa iniciativa a parceria que criou o Coritiba Crocodiles. O futebol americano já é uma realidade nas classes média e alta no Brasil, pú­­bli­­co dos sonhos de qualquer clube. Aproximar-se desses torcedores em potencial é sinônimo de ganho de receita. Por que não o Atlé­­tico se associar ao Curitiba Hur­­ricanes ou ao Curitiba Brown Spiders?