Ali pelo começo de 2012, quando a falência parecia ser o único caminho para a Kodak, os executivos da empresa resolveram vir a público e tratar da crise abertamente. O diagnóstico era simples. A gigante da fotografia havia passado tempo demais sentada em cima da sua gloriosa história. Quando acordou para um mercado dominado pelas câmeras digitais, era tarde e todas as estratégias de recuperação se mostraram ineficazes. A Kodak foi fundada em 1888. Registrou, por exemplo, todas as edições dos Jogos Olímpicos da Era Moderna. Tenho um livro da história olímpica contada através das lentes fabricadas pela empresa. Coisa linda.
O futebol brasileiro data mais ou menos da mesma época da Kodak e os campeonatos estaduais são pouca coisa mais novos. Impossível não olhar para eles hoje sem enxergar competições falidas. Os estaduais sentaram sobre sua história que já foi gloriosa e sobre a proteção da CBF com fins políticos. Perderam a hora de se reinventar e estão sendo forçados a isso.
A sobrevivência ainda é possível. A estratégia do Atlético de jogar com os garotos mais extrema que os mistões de quem está na Libertadores ou do que o Coritiba fará neste ano não deve, necessariamente, ser visto como uma estaca cravada no peito da competição. Basta olhar para o ano passado. A desconfiança inicial da torcida rubro-negra deu lugar a um carinho absurdo com os meninos do sub-23. Atraiu o público de maneira que a equipe principal não conseguia em várias edições. É do instinto do torcedor simpatizar com garotos da casa.
Os estaduais têm uma oportunidade imensa de abraçar essa nova faceta, de vitrine para garotos dos grandes clubes. Uma vitrine que precisa ser menor, para que a novidade não se torne uma enfadonha rotina de quartas e domingos de futebol mediano. Ao mesmo tempo, precisa ser maior para os times pequenos. O Estadual é a vida deles, embora no formato atual mais pareça a morte. Faltam visão e coragem para romper com o passado e buscar a sobrevivência.
A Kodak fez isso. Contrariou todos os prognósticos, fugiu da falência e migrou saudável para o ramo de lentes e acessórios para celulares e câmeras digitais. Aliou-se ao "inimigo". Manteve sua história gloriosa intacta e acrescentou a ela um capítulo inesperado, de quem, mesmo tardiamente, soube se reinventar. Ainda há tempo para os estaduais fazerem isso.
Fim de ciclo
No último ano e meio, dividi minha força de trabalho entre Gazeta do Povo e 98 FM. Divisão que chegou ao fim na sexta-feira. Agradeço a Andréa Sorgenfrei, Rodrigo Fernandes, Marcelo Ortiz, Cristian Toledo e João Santos, que possibilitaram essa saborosa jornada radiofônica. Sigo amolando os leitores aqui na Gazeta.
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