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O Paraná vota até hoje a reforma no seu estatuto. Escondida em meio à crise financeira permanente, a Assembleia de Sócios irá redesenhar o futuro tricolor. O maior impacto será causado pela fusão das modalidades de sócio. Deixa de haver a divisão entre sócio-olímpico e sócio-torcedor e anula-se o grande privilégio do primeiro grupo em relação ao segundo, o direito a voto.

A vida política do Paraná gira em torno da sauna — aos desavisados, isso é uma metáfora. Quem quer ganhar eleição no Paraná precisa conquistar a turma que frequenta as sedes sociais. Contrassenso para um clube que vive do futebol. Desse cenário distorcido por natureza deriva outra anomalia: as vice-presidências são rateadas entre a turma da sauna (metáfora de novo, ok?), sem que precisem necessariamente entender da área sob sua responsabilidade.

Há uma pegadinha nessa democratização. Para votar mesmo será preciso se inscrever antecipadamente no colégio eleitoral. Uma burocracia dispensável, sob a desculpa de impedir que aventureiros inscrevam chapas de última hora — como se não fosse possível aventureiros se programarem para lançar candidatura antecipadamente. No fim, a turma da sauna seguirá dominando o colégio eleitoral, mas a abertura para quem realmente empurra o clube, a turma da arquibancada, é louvável.

As duas turmas — a da arquibancada e a da sauna — passarão a escolher uma diretoria sob a qual estarão superintendentes e chefes de unidades de negócios. Cargos trazidos do mercado de trabalho normal que no fim querem dizer: o clube será administrado por especialistas nas respectivas áreas que serão pagos para isso. É o profissionalismo que todos vislumbram para o futebol — e até o presidente poderá ser remunerado, o que é justo.

É exatamente nesse ponto que o futuro encontra o presente. Não deixa de ser uma triste ironia que o Paraná vote a profissionalização do seu organograma numa semana em que os jogadores dão uma semana de prazo para receber os salários atrasados (até sete meses) ou entram em greve. O presidente do clube abre no computador uma planilha com um organograma empresarial, com metas e um departamento administrativo mais caro, embora potencialmente rentável, na mesma semana em que bota a pasta debaixo do braço para ir à Caixa desbloquear dinheiro de patrocínio. Dinheiro que foi bloqueado porque o Paraná não consegue tirar Certidão Negativa de Débito. Certidão Negativa de Débito que se perde quando, por exemplo, se atrasa o pagamento de dívida refinanciada. Falta que, em pouco tempo, resultará em rebaixamento.

O Paraná precisa, sim, olhar para o futuro, sob o risco de todo o esforço atual servir apenas para apagar incêndio — e profissionalizar tanto o organograma como a gestão é um passo decisivo nesse processo. Mas o clube precisa de soluções para hoje, que permitam limpar a lousa, respirar e caminhar rumo ao futuro. Do jeito que as coisas estão, logo não haverá sauna nem arquibancada para o paranista frequentar.

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