Péricles Chamusca e Vagner Mancini têm trajetórias similares. Ambos despontaram jovens como técnicos promissores, condição carimbada por surpreendentes títulos da Copa do Brasil. Chamusca com o Santo André, em 2004. Mancini com o Paulista de Jundiaí, em 2005. Nenhum deles conseguiu entregar o que se esperava nos anos seguintes.
Por isso a desconfiança quando o Atlético anunciou Mancini. Por isso a mesma desconfiança agora que o Coritiba apresenta Chamusca. Mancini não se encaixava no perfil de top prometido por Antonio Lopes. Chamusca é menos técnico do que Caio Júnior e Celso Roth, planos A e B do Coritiba. Os cenários são parecidos o bastante para permitir ao Coxa acreditar que sua aposta pode dar tão certo quanto a do rival. Há, porém, algumas diferenças capazes de interferir decisivamente no desempenho.
O período de baixa da carreira de Mancini teve mais pontos altos que o de Chamusca. Mancini fez ótimo trabalho no Vitória, em 2008, levou o Ceará à semifinal da Copa do Brasil de 2011 e no mesmo ano livrou o Cruzeiro do rebaixamento. Chamusca tem apenas uma passagem consistente pelo futebol japonês. Quatro anos no Oita Trinita, período em que tirou o time das últimas posições na tabela e levou a uma quarta posição e ao título da Copa Nabisco no último ano de contrato. Não adianta, seu melhor cartão de visitas fora o título pelo Santo André é o vice-campeonato da Copa do Brasil de 2002, com o Brasiliense.
Mancini também encontrou um elenco mais inteiro fisicamente, com número baixíssimo de lesões e clara capacidade de sobrar no segundo tempo dos jogos. Por sempre contar com os titulares, Mancini não sofre com as carências de um elenco limitado.
No Coritiba, a limitação do elenco fica clara a cada rodada em que a lista do departamento médico não diminui. O discurso recorrente no Alto da Glória é de que quando os machucados voltarem, o time crescerá. Isso é fato. Com Vanderlei, Leandro Almeida, Júnior Urso, Robinho, Alex e Deivid, sua espinha dorsal, o Coxa viveu seu melhor momento, chegou à liderança. É justo considerar que se Chamusca tiver essa estrutura à disposição, conseguirá melhores resultados. Mas quem confia realmente que o DM do Coritiba esvaziará, ou pelo menos deixará de ter como inquilinos quem realmente pode fazer a diferença em campo?
Convicções
Há um viés financeiro na contratação de Chamusca. Ele é um dos raros técnicos que topa pegar um time de Série A por menos de R$ 100 mil por mês. Há, também, uma questão conceitual. Chamusca vem com apenas um auxiliar, o que permite ao Coritiba manter a sua comissão técnica permanente. Fugir da loucura do inflacionado mercado salarial do futebol é sempre louvável. Também é louvável se proteger da saída repentina de toda uma comissão técnica. Porém, o Coritiba perde a chance de dar uma sacudida mais profunda no seu futebol. Fará a mudança com o que é possível e acreditando na reinvenção de quem está dentro do clube. É uma aposta.
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