Um dos meus exercícios mentais favoritos é imaginar o que se passa pela cabeça de personagens envolvidos em um grande jogo. Não me refiro a questões táticas ou de escalação. Aí não há exercício de imaginação. É analisar as possibilidades, ver o histórico de cada uma delas e concluir o que as opções oferecem de bom e de ruim. Falo de questões mais humanas: medo, ansiedade, esperança, dúvida, confiança ...

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Veja Antônio Lopes. Ele está há tanto tempo no futebol que é impossível algo ainda surpreendê-lo. Se vocês e eu estamos quase entrando em parafuso só de imaginar o que pode acontecer no domingo, Lopes, não. Mais do que qualquer um de nós, ele sabe exatamente o tamanho da chance de Coritiba e Atlético saírem vencedores do Atletiba. Pode apostar: quando Sandro Meira Ricci encerrar o clássico e o Delegado sacar a medalhinha debaixo da camisa cuidadosamente passada e engomada pela Dona Elza, ele dirá para si mesmo: "Eu sabia que seria assim".

Marcelo Oliveira, não. E isso é bizarro. Marcelo Oliveira jogou anos no Atlético Mineiro quando o Galo era realmente grande. Decidiu títulos com estádio lotado. Ganhou, perdeu. Sentiu a cobrança no dia a dia. Com 56 anos, tem idade suficiente para ter enfrentado absolutamente todas as situações da vida.

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Mas sentado no banco de reservas, dirigindo um time de futebol, ainda é pouco mais que um iniciante. Marcelo passou anos como auxiliar e técnico da base do Galo, sendo o interino gente boa que todo mundo adorava quando assumia o time principal entre um técnico mala sem-alça e outro. Não serve de parâmetro. Também comandou CRB, Ipatinga e Paraná. No primeiro, não enfrentou o nível de cobrança dos centros maiores; no segundo, estava no interior, era o time pequeno; no terceiro, as circunstâncias faziam do "não perder" o sistema de jogo quase único.

Em 2011, Marcelo Oliveira, o treinador, viveu dez anos em um só. Decidiu um título contra o maior rival, na casa dele, e ganhou com sobras. Teve a chance de conquistar um torneio nacional, que escapou muito porque ele ousou desafiar um dos princípios básicos do futebol: "Em time que está ganhando não se mexe". Mexeu. E perdeu. Tanto o título quando uma oportunidade que muitos treinadores às vezes passam o resto da carreira sem ter outra igual.

Apenas seis meses depois, Marcelo Oliveira teve. E agora, o que passa pela cabeça dele? De junho para cá, Marcelo Oliveira encontrou uma formação intermediária entre o time receoso da decisão contra o Vasco e a superofensiva equipe do primeiro semestre, com Tcheco se desdobrando entre marcação e criação. Marcelo conseguirá levar em conta apenas o rendimento de cada formação ou todos esses sentimentos tipicamente humanos terão influência determinante?

É a partir dessas dúvidas e certezas na cabeça dos treinadores que será decidido o Atletiba.

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