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Hoje o Atlético tem todas as características de rebaixado. Problemas na montagem no elenco, alta rotatividade de treinadores, dificuldade em buscar bons reforços, carências gritantes no elenco, dificuldade em manter uma ascensão consistente, tensão política nos bastidores. A torcida é a única exceção, tanto pela presença numerosa no estádio quanto pela paciência quando a bola está rolando.

Escrevi algumas vezes que o processo de recuperação do Atlé­­tico se dividiria em duas etapas. A primeira era conseguir uma arrancada para sair da zona de rebaixamento. Nisso Renato Gaúcho foi perfeito. Deu o choque que o vestiário precisava, impulsionado por uma nova e mais atraente política de bichos, e rapidamente fez o elenco jogar por ele.

A segunda parte, mais difícil, era dar ao time força para manter a recuperação por longo tempo e lidar com as inevitáveis derrotas. Nisso Renato Gaúcho foi terrível. A justíssima cobrança por um centroavante ganhou ares de chacota quando Fransérgio passou a ser a solução recorrente para a posição. Antes, Morro García já havia sido fritado em fogo médio pelo mesmo motivo.

Depois vieram reclamações sobre a falta de opções de voo para ir ao Rio, a decisão egoísta de não le­­var a Sul-Americana a sério, a explosão contra Héber no Atletiba, as críticas corretas ao gramado e o suicídio de queimar um jogador (no caso, Madson) publicamente. Ali Renato fez nas entrelinhas o seu pedido de demissão. Ele sabe que criticar jogador em público é certeza de perder o grupo. À diretoria já havia deixado a impressão de "gênio difícil".

É bem provável que essa instabilidade tenha relação com os problemas pessoais a que Renato atribuiu seu pedido de demissão. Foi a justificativa que o treinador me passou por telefone, às 15h01, logo depois de soltar uma respiração pesada e dizer "pedi", como reposta a "você pediu demissão do Atlético?".

A saída de Renato pegou a diretoria rubro-negra de surpresa. O que não deve ser surpresa é o seu substituto. Escrevo sem saber se Carpegiani e Riva Carli aceitaram o convite para voltar. Foi a última dupla que fez o Atlético jogar e correr muito. A missão de Carpegiani – se for aceita – será mais complicada que a do ano passado. Começa mais tarde e o elenco é pior. Havia, pelo menos, uma boa defesa pe­­dindo para ser arrumada e dar o esteio para a recuperação do time.

Mas é menos grave que o cenário de 2008, logo após a derrota por 3 a 1 para o Fluminense, dentro da Arena. Rafael Moura cometeu um pênalti absurdo, Danilo pedira dispensa na concentração porque não queria ficar no banco, o Flu era um oponente direto e restavam apenas nove rodadas. O time era fraco, mas conseguiu uma combinação única de raça e sorte, além de contar com um ambiente político em pacificação. Raça, sorte e pacificação são os ingredientes que restaram para o Atlético evitar o descenso neste ano. Pelo menos hoje, dia 2 de setembro, é improvável a combinação desses três fatores na Baixada.

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