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Há algumas semanas Carrasco tem falado em abrasileirar o seu estilo. Por mais contraditório que seja, significa adotar uma formação menos ofensiva. O movimento começou contra o Cruzeiro, em Sete Lagoas. Funcionou. Nitidamente comprometeu o rendimento contra Coritiba e nos 180 minutos frente ao Palmeiras. A única partida em que o estilo Carrasco esteve presente em estado puro foi a de Joinville, no resultado mais folgado do período – com a devida ressalva da fragilidade do JEC.

O pedido para domar a equipe partiu diretamente de Mario Celso Petraglia e foi comentado pelo próprio presidente em reunião recente do Conselho Deliberativo. Segundo Eduardo Luiz, ex-colega de Gazeta do Povo e hoje setorista rubro-negro na 98 FM, Petraglia gosta do trabalho de Carrasco no geral, mas pediu ao treinador que se adaptasse ao futebol brasileiro. Na prática, isso significou a troca do terceiro atacante por um segundo volante.

Considero normal o presidente de um clube trocar ideias com o treinador sobre o trabalho feito em campo. Se as coisas não andarem bem, é o presidente quem responde perante a torcida. Logo, não tem o direito de se omitir caso ache que algo está fora do eixo. Claro, há uma linha bem tênue entre a cobrança e a ingerência. Até o momento, ressalte-se, Petraglia tem respeitado essa fronteira.

Ainda assim acho uma pena o recuo tático. O estilo ofensivo, vertical, sempre em busca da vitória tem tudo a ver com a história que o Atlético construiu. Não à toa, uma das marcas registradas do clube são as duplas ofensivas, desde o tempo em que se jogava com cinco atacantes. O Atlético tornou-se temido na Arena por jogar na garganta do oponente.

Carrasco trouxe isso de volta no momento em que o clube mais precisava. Rebaixamentos têm o efeito imediato de afetar a autoestima da instituição e do torcedor. O processo de recuperação é demorado. Carrasco acelerou etapas. Fez o torcedor voltar a sentir orgulho de um time com muitos jogadores formados em casa. Um reconhecimento que não teria vindo tão rápido com um cinturão de volantes ou o onipresente 4-2-3-1 (esquema que, por sinal, muitas vezes se transforma em um 4-3-3). Pedir ao uruguaio para abrir mão disso é dar um passo atrás sem a certeza de que – ao menos com ele – o Atlético possa dar dois adiante.

Dias depois da contratação de Carrasco, escrevi o seguinte no blog Bola no Corpo, dentro do site da firma: "(...) tem a convivência com Petraglia. Os dois têm gênios fortes e são extremamente personalistas. O risco de sair faísca é enorme. Acredito que Carrasco pode fazer um bom trabalho no Atlético, moldar um time para subir sem grandes percalços. Mas não consigo vê-lo terminar o ano na Baixada." O Atlético hoje, mesmo precisando se reforçar, está moldado para subir. A questão é saber se com ou sem Carrasco. Melhor com o corpo e a alma do uruguaio.

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