Quarta-feira, pouco depois da rodada, entrei no site do Coritiba para ver a repercussão da classificação na Copa do Brasil. Entre relato da partida, ficha técnica e destaques da coletiva, me chamou a atenção o texto "Uma era competitiva". Trata-se de um extenso arrazoado sobre o planejamento e o trabalho da diretoria coxa-branca.
Por o projeto em um altar é prática corriqueira no futebol brasileiro atual; no Alto da Glória, segue-se a tendência. Lincoln fez isso na saída de campo, Marcelo Oliveira faz sistematicamente nas coletivas. Às vezes passa um pouco da medida, como na apresentação de Sérgio Manoel, há algumas semanas. Logo abaixo do título da matéria, em destaque uma frase do jogador: "O planejamento é fantástico". Faria algum sentido se o contrato fosse Xavi com seus 20 anos de Barcelona; Seedorf e a experiência de defender Ajax, Real Madrid e Milan; Patrick Vieira com a vivência de quem trabalhou anos com José Mourinho ou mesmo o velho Sérgio Manoel e seu currículo de 20 e tantos times. Mas para um (bom) jogador de 22 anos, com Rio Preto e Mirassol na carteira de trabalho, soa forçado. Para quem nunca viu o mar, a direita de Matinhos parece Pipeline em semana de Pipe Masters.
A valorização de Ximenes e Vilson ao projeto tem a ver com a história de ambos. Ximenes é um dos expoentes dessa primeira leva de gerentes de futebol profissional no Brasil. Vilson vem de um segmento em que o planejamento determina o sucesso em proporção direto. Natural que eles achem que "a bola não entra por acaso", nome do livro de Ferran Soriano, ex-diretor geral do Barcelona, e bíblia da gestão de clube de futebol.
O Barcelona é um ótimo exemplo para medir o peso real do planejamento no sucesso. O projeto La Masía forma jogadores desde cedo dentro de uma ideologia solidificada, permite ao clube ir a Rosário, descobrir um moleque de 12 anos com déficit de crescimento e oferecer-lhe um tratamento de saúde milionário em troca de o garoto apenas jogar futebol. Mas o mesmo projeto que descobriu o fabuloso Messi passou anos se iludindo com o limitado Bojan. O time nascido deste projeto ganhou quase tudo nos últimos anos e parou em uma estoica retranca inglesa à moda italiana. Como escreveu Tostão na quarta-feira, a bola também entra por acaso. E às vezes também não entra.
Na função de veículo oficial, o site do Coritiba cumpre seu papel ao exaltar o trabalho da casa - se o site não fizer, como querer que outros façam? Para quem está de fora torcida e imprensa cabe ter o discernimento de saber que o projeto não calça chuteiras. Para citar um exemplo prático: o planejamento permitiu a Marcelo Oliveira escalar Sérgio Manoel, Everton Ribeiro, Lincoln e Roberto juntos. Mas é o talento dos quatro que permite carimbar a vaga na semifinal da Copa do Brasil em um belíssimo contra-ataque de cinco toques na bola.
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