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Passei boa parte do domingo na feirinha de San Telmo, em Buenos Aires. Para quem não conhece, é a feirinha do Largo da Ordem cinco vezes maior, começando três horas depois e só terminando após o pôr do sol.

Em uma das muitas paradas para ver carteiras de seda e lenços de couro (ou o contrário, sei lá eu depois de tanta pernada) estendidos no paralelepípedo, o vendedor puxou papo sobre futebol. Logo de cara disse que o Brasil é favorito a ganhar a Copa. "Vocês têm Neymar…", engatou, sem sair do lugar, até, com a ajuda do interlocutor, citar Fred. Respondi falando de Messi, "espetacular". E a conversa terminou com ele comparando os dois estilos: "O Brasil define rápido. Em três passes está no gol. A Argentina toca a bola e não define nunca".

A definição é rasa e precisa, embora as características distintas guardem uma semelhança: não corresponde ao futebol jogado dentro dos países. O futebol argentino segue com um jogo cadenciado, dependente dos seus camisas 10 e temperado pela mistura raça + centroavantes rompedores. A seleção joga à maneira do Barcelona, único jeito de fazer Messi ser vestindo albiceleste o que é vestindo blaugrana.

O Brasil tem um estilo para cada região. Mais físico no Sul, cadenciado no Rio e no Nordeste, técnico em São Paulo e Minas. Pouca semelhança com o que Felipão prega na seleção: velocidade e disciplina tática alemãs combinadas com a técnica tipicamente brasileira. É o melhor encaixe para um elenco calejado no futebol europeu.

Brasileiros e argentinos assistem, dentro de casa, um esporte diferente do praticado pelas suas seleções. São obrigados a conviver com times que mudam a cada semestre, talento escasso, arbitragens horríveis e violência. No domingo, por exemplo, Godoy Cruz e Boca Juniors acabou com briga entre jogadores no campo e torcedores na arquibancada, após uma atuação pavorosa do juiz – um pênalti não marcado para cada lado no primeiro tempo, outro inventado para o Boca nos acréscimos. Na sexta-feira um treinador agrediu um torcedor e no domingo, Maxí Rodrígues, do Newell’s, provocou a torcida do Rosário Central ao fazer gol no clássico rosarino. Um clássico de torcida única, diga-se.

São problemas presentes no dia a dia do nosso futebol e do futebol do vizinho. Se a rivalidade mantém brasileiros e argentinos permanentemente em lados opostos, a realidade nos deixa mais próximos do que nunca.

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Fora no fim de semana, não assisti à dupla Atletiba. Como resultado, o 2 a 1 do Coritiba sobre o campeão Cruzeiro é espetacular como motivação. Impulso para o Coxa não cair que não pode virar desculpa para achar que o elenco é bom. Não é. A derrota do Atlético impressiona, mas não deve assustar. A gordura ainda é boa.

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