Em um futebol cada vez mais preocupado em adestrar a manifestação dos jogadores, chama atenção a maneira como veio à tona o atraso salarial no Coritiba. Não teve informação vazada na surdina para imprensa, sob condição do anonimato para não sofrer represália, como foi e ainda é tão comum no futebol brasileiro.

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Foi na cara limpa, com uma publicação assinada na internet para todo mundo ver. Um rápido diálogo com Alex e pronto: Zé Love detonou a bomba. Depois, um a um, jogadores, familiares e empresários foram curtindo e compartilhando a publicação. Um atestado público de apoio e de que aquela era uma reivindicação do grupo, não somente do dono do perfil.

No Paraná, mesmo sem recorrer às redes sociais, todas as recentes reivindicações salariais foram abertas. Sempre havia um jogador para falar em nome do grupo, expor o problema, apontar os possíveis desdobramentos e cobrar soluções.

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É uma postura que vai totalmente na contramão da imagem de desinteressado e pouco articulado que sempre se teve e ainda se tem dos jogadores. E mais curioso ainda que duas das ferramentas mais usadas para mostrar esse novo perfil sejam aquelas que, nos tempos atuais, mais estão ligadas a uma pretensa futilidade da boleirada: telefone celular e redes sociais.

Foi via WhatsApp que o Bom Senso FC fortaleceu sua rede e solidificou as ideias que barraram a versão frouxa da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte na Câmara. É nas redes sociais que os jogadores se posicionam, como fez Zé Love sobre arbitragem e salário atrasado. Sem que essa tomada de posição seja prejudicada ou mereça ser levada menos a sério por causa das inevitáveis fotos com os "parças" e com cachorros, filosofadas e trechos de músicas da moda.

Por tudo isso, se torna anacrônica a manifestação de Anderson Barros, de que a mensagem de Zé Love expunha uma questão que deveria ser tratada internamente. Embora mereça elogios pela decência de admitir o problema e tratar do assunto (outros na mesma função negariam mesmo diante de um extrato bancário), Barros erra na dose. Na origem do problema está a falha do clube em não conseguir honrar o pagamento que assumiu na assinatura dos contratos.

Esconder um problema desses no vestiário é sonegar ao associado uma informação preciosa sobre o dinheiro que ele põe mensalmente no clube. Os sócios correspondem, segundo o balanço de 2013, a um quarto da receita do Coritiba. Ao menos nos dois últimos meses, esse dinheiro foi usado para um fim diferente de pagar o salário dos jogadores.

Se o clube não quer ser exposto dessa maneira, basta seguir duas receitas básicas: assumir o que pode pagar e pagar em dia.

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