Fim de tarde e surge na tela a nota do Atlético sobre Nathan. A impressão após a leitura das oito linhas é ruim. A lembrança de tudo que já li e ouvi sobre o caso, uma conversa com o Fernando Rudnick, que explica direitinho o caso aqui na Gazeta, e outra por telefone transformam essa impressão em certeza. Trata-se de um clássico do futebol brasileiro.
Nathan tem um potencial que ainda não virou futebol consistente. A idade pesa, o momento do Atlético pesa, o turbilhão de acordar diariamente sem saber o seu futuro pesa, ter de negociar qualquer coisa com Petraglia pesa. Mas ainda vejo Nathan valendo menos do que seu entorno acha que vale. Por "seu entorno" entenda-se seu pai.
São raros os pais de atletas com plenas condições de administrar bem a carreira do filho. É difícil traçar uma fronteira clara entre ser pai e ser empresário. O que acontece quando essa fronteira é frágil ou inexiste? Jean Chera. O maior foguete molhado dos dez últimos anos no futebol brasileiro teve a carreira sabotada pelo próprio pai. O resultado é que o menino que sonhava ser Ronaldinho joga hoje em um clube pequeno da Grécia. Ao menos pode refletir sobre a dureza vida olhando para o Parthenon, com um caneco de Mythos na mão em algum bar da Plaka.
Mesmo gênios sofrem com pais que querem se meter a gestores de carreira. Andre Agassi teria sido muito maior no tênis se não fosse o regime de terror imposto pelo seu pai desde quando ele era bebê e tinha raquetes presas aos punhos para bater no mobile de bolinhas amarelas. Há exceções, como Neymar. Repito: exceções, não regra.
O que parece ser regra é a insistência dos clubes em cometer os mesmos erros. O Atlético não é o primeiro a ter problemas com um jogador porque não conseguiu exercer uma cláusula prevista em contrato de gaveta. Provavelmente não será o último. Acordos desse tipo dependem exclusivamente da confiança entre os dois lados, algo extremamente frágil. E aqui não crucifico Nathan ou seu pai. Se eles receberam alguma promessa ou tiveram alguma expectativa não atendida, não cumprir esse tipo de cláusula torna-se um caminho inevitável e lícito. A Justiça do Trabalho dá a segurança de sair sem precisar cumprir um contrato que foi concebido para contornar alguma restrição. No caso, Nathan tinha 15 anos quando assinou o primeiro contrato e não poderia fazê-lo por cinco temporadas, como é o padrão. É como se joga o jogo. Os riscos são conhecidos.
Agora, o histórico do Atlético indica que a guerra está apenas começando. Como aconteceu com Dagoberto ou Manoel, o clube deve partir para um processo de desconstrução de Nathan. Discursar que deu toda a assistência ao garoto, investiu em sua formação, ofereceu um contrato vantajoso e em troca só recebeu ingratidão. Pode até ser que Nathan jamais se torne o craque que poderia. Certo mesmo é que não veremos ele responder a essa dúvida com a camisa do Atlético.
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