Todos nós estamos com inveja dos mineiros. Dois títulos brasileiros, um da Copa do Brasil e uma Libertadores nos dois últimos anos. A impressão é de que se trata de um feito extraordinário, impossível de ser alcançado pelos reles mortais do futebol paranaense.
Quatro títulos de grande porte em dois anos é, sem dúvida, um feito extraordinário. Mesmo para os endinheirados clubes paulistas e cariocas é raro conseguir esse desempenho. Os gaúchos, com Libertadores e mundiais na sala de casa, também não conseguiram tanto em tão pouco tempo. Mas a fórmula está bem longe de ser impossível. Cruzeiro e Galo executaram aquilo que todo ano os clubes falam em executar, mas por algum motivo às vezes pura incompetência não conseguem.
Os rivais mineiros ampliaram seus quadros de associados. O Cruzeiro, ao ponto de conseguir contratar Júlio Baptista só com esse dinheiro. Mas, exceto a indecente tabela de preços da final da Copa do Brasil, não cobram ingressos que fechem o portão na cara do torcedor eventual.
Mais gente no estádio gerou mais dinheiro. E quem não tem o hábito de ir ao Horto ou à Pampulha também colabora. A torcida do Cruzeiro é a que mais compra pay-per-view no país, atrás dos inalcançáveis Flamengo e Corinthians. Abaixo da Raposa estão São Paulo, Vasco e o Galo. Os mineiros pagam mais pra ver seus times pela telinha do que os gaúchos, exemplos históricos de fidelidade.
A fidelidade mineira é crescente porque tem correspondência dentro de campo. Times fortes construídos com o dinheiro dos sócios, mas também com a habilidade dos dirigentes. Os mineiros fazem de seus centros de treinamento fábricas contínuas de jogadores. O Cruzeiro tirou da Toca 2 Mayke e Lucas Silva. O Atlético-MG subiu da Cidade do Galo Jemerson e Carlos. Só para ficar nos titulares. A saída ao mercado também é precisa. Há ostentações como Ronaldinho e Júlio Baptista, um patamar que talvez nossos clubes jamais sejam capazes de alcançar. Mas Willian, Ricardo Goulart, Everton Ribeiro, Leandro Donizete e Luan chegaram a Belo Horizonte em negociações de pouco (ou médio) custo e muito benefício.
Lógico, os mineiros têm vícios comuns à cartolagem. Fazem bravatas, esfaqueiam o bolso do torcedor e o bom senso em uma decisão, preferem a solução fácil da torcida única ao invés de buscar a convivência entre os rivais na arquibancada, atrasam salário, dão calote em outros clubes... Mesmo com o marco zero da fase atual tendo sido o clássico do rebaixamento de 2011, também tinham um lastro histórico que os colocava em uma posição de partida melhor que os nossos. Mas, no fim, deram o salto que deram apenas porque executaram o simples com eficiência e persistência.
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