Em quatro anos de Dunga, a seleção teve tropeços constrangedores quando enfrentou adversários retrancados (Bolívia, Colômbia, etc.) e triunfos marcantes diante de equipes abertas (Argentina em três diferentes momentos, Itália e afins). Assim, dentro da coerência dunguística, não é surpresa que o Brasil tenha demorado a achar o caminho do gol norte-coreano, como também será normalíssimo vencer bem Portugal daqui a uma semana. A interrogação está no duelo entre a estreia e a despedida da primeira fase, domingo, contra a Costa do Marfim. Os Elefantes aliam a marcação dos pequenos ao poderio ofensivo dos grandes.
Zokora, Yaya Touré e Tioté formam um trio de meio de campo que, diante de Portugal, marcou a saída de bola sob pressão, na intermediária do adversário. Se repetirem a estratégia contra o Brasil, deixarão clara a verdade inconveniente de que Felipe Melo e Gilberto Silva têm dificuldade extrema em dar passes além do trivial.
Com a bola no pé, os marfinenses têm a quem passá-la. Gervinho e Kalou abrem pelas pontas, com apoio de um meia e um lateral de cada lado. E domingo haverá Drogba em campo desde o início. Marcar Yaya Touré será matar os ataques no início.
Soa como um quase milagre poder apontar virtudes em um time que, até três meses atrás, parecia um bando de caras que pareciam desejar tudo para o inverno de 2010, menos estar junto jogando futebol na África do Sul. Valid Halilhodzic deixou o comando da equipe, após a Copa Africana de Nações, apontando uma profunda divisão no grupo. De um lado, Eboué, Zokora e os irmãos Touré, revelados pelo Asec Mimosas, clube local mantido por um empresário belga e que chegou a ter um técnico brasileiro, João Carlos por sugestão dele que Gervais virou Gervinho. De outro, atletas formados por outros times, Drogba e Keita à frente.
Sven-Goran Eriksson tinha como arma para curar essa cisão as boas referências que Terry, Lampard, Ashley Cole, Campbell e outros jogadores comandados por ele na Inglaterra poderiam dar de seu trabalho a Drogba, Kalou, Kolo Touré e Eboué, marfinenses que disputam a Premier League. Na prática, conseguiu muito mais que isso: montar um time realmente capaz de bater o Brasil em uma Copa do Mundo.
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Leonardo Mendes Júnior é editor-chefe da revista ESPN
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