O dia e horário em que o Atlético anunciou o afastamento de Manoel são simbólicos. Ninguém planeja soltar nota oficial às 11 e tanto de uma noite de sábado. Se isso acontece, é na base do surto e do rompante.
Como Petraglia está na praça há quase 20 anos só no futebol como linha de frente , isso não chega a ser novidade. Petraglia é um homem de surtos e rompantes. Muitos geniais, o que ajuda a explicar o salto admirável do Atlético em duas décadas, na mesma medida que muitos acertos administrativos bem planejados.
No caso de Manoel, o impulso é falar que o dirigente deu um tiro no pé. A reação da torcida contrária ao afastamento foi maciça. Mesmo os petraglistas mais xiitas tiveram alguma vergonha em defender o ato. Manoel é um dos melhores zagueiros do futebol brasileiro, tem uma identificação absurda com o clube, sempre esteve comprometido com o time dentro de campo e, se exerce o direito que todo ser humano tem de tomar um gole nas folgas, nunca deixou isso prejudicar seu desempenho em campo. E mesmo se houve alguma insurgência contra o técnico, não há muita dúvida de quem serve mais ao Atlético.
Mesmo com toda essa comoção rubro-negra, é necessário fazer a pergunta: e daí? Qual o efeito prático disso? Houve comoção similar pela permanência de Paulo Baier. Enquete com mais de 90% de aprovação ao jogador. Gritos de "Fica, Paulo Baier" no estádio. Petraglia renovou de boca, mandou anunciar no sistema de som do estádio e, quando pintou a brecha, jogou a palavra no lixo e chutou Paulo Baier. Como Petraglia esperou o momento propício, não faltou quem elogiasse o drible do dirigente no ídolo sem título.
É provável que Petraglia busque o mesmo com Manoel. Vai usar os veículos oficiais do clube, onde por princípio não há contestação, para defender sua teoria sobre o jogador. Rapidamente ganhará o apoio da rede repetidora dos seus discursos, que passa as ideias do dirigente adiante com grau zero de reflexão.
Se o Atlético tomar uma sapecada do Grêmio porque seus zagueiros são limitados, silêncio absoluto. Se Cleberson desenvolver o potencial apresentado na Série B de 2012, se Drausio apresentar um futebol que não conhecemos, se Léo Pereira tomar conta da zaga como tem condições de fazer, se o Atlético garimpar no mercado um zagueiro que ninguém viu e tirar a sorte de grande Se algo ou tudo isso acontecer, não tenha dúvida, Petraglia virá à tona triunfante para bater no peito e acertar de novo, mesmo que tenha errado no caso Manoel.
Há quase 20 anos é assim que as coisas caminham no Atlético. E, sejamos justos, caminharam mais para frente do que para trás. Manoel é um zagueiraço. Salvo prova contrária, está sendo vítima de injustiça. Mesmo assim, não parece ser ele o cara que acabará com a gestão de surtos e rompantes da Baixada.
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