É difícil ter a noção exata de um feito histórico enquanto ele está acontecendo. Em regra, peca-se por dar a ele um valor menor do que merecido. Mais comum acontecer o oposto, supervalorizar algo que logo adiante se mostra uma tremenda bobagem.

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Lembro, por exemplo, de no meio de 2009, na condição de editor deste caderno de Esportes, ter pautado uma matéria sobre o lugar que Marcelinho Paraíba ocuparia na galeria de grandes ídolos do Coritiba. Era meio do ano, Mar­­ce­­linho estava jogando muito e o Coxa ocupava uma posição confortável no Brasileiro. Passaram-se alguns meses, o time foi rebaixado e o único lugar que restou ao MP9 na história coxa-branca foi o de um dos grandes fiascos.

O risco da supervalorização talvez esteja inibindo parte da im­­­prensa a posicionar o time atual do Coritiba dentro da história do clube. A série de 13 vitórias no Esta­­dual, o grande futebol apresentado, os triunfos incontestáveis so­­bre os rivais, a invencibilidade na temporada, tudo contribui para fazer do time comandado por Marcelo Oliveira um dos melhores a já ter vestido a camisa alviverde.

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Lógico, não há base de comparação com as máquinas dos anos 50 e 70, equipes que dominaram o futebol paranaense e demonstraram uma imensa capacidade de renovação sem perder a hegemonia. O Coxa bicampeão em 1979 tinha quase nada do campeão do Torneio do Povo em 1972. Ainda assim, ao longo dos sete anos entre um título e outro, o Coritiba foi praticamente imbatível.

Talvez seja mais fácil comparar o Coxa de hoje com os grandes times dos anos 80 para cá. Para mim ao menos é, pois vi todos jo­­gando, consigo separar por conta própria a realidade das lendas que cercam qualquer supertime. Nes­­tas três décadas, o melhor Coritiba – ao menos na minha avaliação – foi o de 1989. Osvaldo, Serginho, Tostão e Carlos Alberto Dias formavam um meio-campo que jogava por música. Chicão era o goleador que resolvia qualquer partida difícil. Vica e João Pedro traziam a se­­gurança necessária à defesa, com uma dupla quase intransponível.

Tecnicamente, o time campeão estadual com Valdyr Espinoza em 1989 era melhor que o campeão brasileiro em 1985. A diferença es­­tava no espírito copeiro que Ênio Andrade impôs àquele Coxa, reforçado pelo talento acima da média de Rafael, Lela e Tóbi.

O time de 89 chegou ao título com 19 vitórias, 8 empates e 3 derrotas (72,2% de aproveitamento, dando para cada vitória três e não dois pontos, como era na época). Marcou 63 gols (2,1 por jogo) e levou 27 (0,9). O time de agora tem 13 vitórias e 2 empates (91,1%), 40 gols a favor (2,7 de média) e 12 sofridos (0,8). Todos os números pesam a favor da equipe atual, em­­bora seja claro que ainda falta algo para garantir um lugar na história.

Esse Coxa precisa do título estadual para carimbar seu ótimo mo­­mento e chegar à Libertadores para, aí sim, mostrar que é um dos melhores times já formados no Alto da Glória, não apenas mais uma boa fase supervalorizada.

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