Há um aspecto passional muito forte na decisão do Coritiba de não em­­prestar o Couto Pereira ao Atlético. Desde o fim do ano passado a torcida alviverde tem se posicionado contra a cessão e pressionado a diretoria para isso. O mesmo foi feito por sócios donos de cadeira, que enviaram ofício ao clube dizendo que os assentos pelos quais eles pagaram não estão disponíveis. A vibração geral com a nota divulgada pelo clube ontem, similar à de um gol em clássico, só reforça essa percepção.

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Mas é preciso se distanciar um pouco, deixar a paixão de lado e avaliar a situação. Coritiba e Atlé­­tico disputam um cuidadoso jogo de xadrez nos bastidores, mediado pela Federação – talvez o pôquer se­­ja a referência mais fiel, pois o que está no centro da polêmica é dinheiro, muito mais do que paixão de torcedor.

A recusa coxa-branca é quanto à cessão obrigatória do estádio, amparada pelo Regulamento Ge­­ral de Competições da Fede­­ração. O documento dá direito à FPF de reivindicar o estádio. Vilson Ri­­beiro de Andrade, contudo, diz que há possibilidade de acordo com o Atlético para o aluguel do Couto. Mas que para haver acordo o Coritiba precisa ser procurado, algo que ainda não aconteceu formalmente.

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E por que o Atlético não procura o Coritiba? Em tempos de poucas palavras na Baixada, é necessário ler a situação. Procurar o Cori­­tiba implica em o Atlético admitir pagar o aluguel que o Coritiba determinar. Dinheiro que sairia, em princípio, do cofre do clube. A indicação via Federação ou CBF é uma maneira mais barata de jogar em um estádio que comporte o número de sócios do Rubro-Negro. E a mediação de uma terceira entidade funcionaria como garantia de um preço mais ameno de aluguel. Ao jornalista Napoleão de Almeida, da Band Curitiba, Hélio Cury falou em bom senso no valor a ser cobrado pelo Coritiba.

Ok, mas acertado o aluguel, quem paga a conta? Esse é outro ponto fundamental. No início da semana, o colunista Augusto Ma­­fuz (Tribuna) desenvolveu um raciocínio lógico e plausível sobre o assunto. A Copa é um evento da Fifa, gerenciado em parceria com o governo federal e os governos estaduais. O estado do Paraná solicitou ao Atlético a Arena, mas para que o Atlético possa abrigar a Copa em seu estádio são necessárias vá­­rias reformas. São essas reformas que deixam o clube sem casa por determinado período e o obrigam a jogar em outro lugar. Assim, o custo (aluguel) gerado pela reforma da Copa deveria ser pago pelo poder público – na verdade, nós, contribuintes.

Faz sentido, mas até certo ponto. O estado tira proveito do estádio durante a Copa, um torneio de 30 dias - ou 11, no caso curitibano. De­­pois disso, os benefícios – e os eventuais lucros – ficam para o Atlético. Não faz sentido a fatura integral cair no colo do governo. Mas este é um movimento mais adiante. Por enquanto, mesmo que a torcida do Coritiba tenha a impressão contrária, seu clube ainda não deixou o rival em xeque.