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Para o pessoal do interior a condenação do Rio Bran­­co era dada como certa. E eu, mais do que ninguém, vinha sentindo isso de perto. Quem tem acompanhado as transmissões que a RPC TV faz do Campeonato Paranaense sabe o quanto tenho rodado por aí. E na conversa com o pessoal de cada uma dessas localidades o que sempre ouvi foi a eterna desconfiança com relação às ações envolvendo os clubes da capital.

Ainda domingo passado, em Paranavaí, fui convidado a participar de uma roda de conversa numa das emissoras de rádio presentes ao estádio. Para todos os meus interlocutores, o Rio Branco estaria condenado e re­­baixado, "porque jamais deixariam o Paraná cair".

Contra-argumentei, entendendo não haver dolo na inscrição do jogador e, por isso, não se caracterizar a culpa do clube por um documento que lhe foi passado por terceiros. Bem educados, os radialistas aceitaram minhas ponderações, fingiram acreditar em mim e tudo bem, cada um foi para seu canto trabalhar.

É sempre assim com qualquer assunto envolvendo interesses distintos de capital e interior. Há uma cultura, de décadas, a insuflar as pessoas de lá contra decisões ou tomadas de posição que firam interesses regionais. Um pênalti mal aplicado (ou até bem aplicado, mas não na interpretação de quem se sente prejudicado), uma mudança de horário, uma interdição de gramado... tudo passa a ser um fundo de ló­­gica na teoria da conspiração.

Sou do interior, sei como isso funciona. Nos meus tempos de menino, em Ponta Grossa, imaginávamos o pior cada vez que um dos clubes de lá (Guarani e Operário) tinha de enfrentar os grandes de Curitiba. E ainda me lembro da mobilização da cidade inteira para a retomada do título regional de 1961, reconquistado pelo Operário na Jus­tiça, pelo fato de o Coritiba ter utilizado irregularmente o pa­­raguaio Agapito. Também na­­quela ocasião não se acreditava ser possível o interior ser beneficiado nos tribunais. E tanto lá quanto cá, foi.

E não pense ser este um sentimento exclusivo de quem mora nas cidades menores. A sensação é a mesma que nós, paranaenses, temos quando nossos clubes enfrentam os mais poderosos no campeonato brasileiro. Sempre reclamamos da escalação dos árbitros para nossos jogos, da interpretação que a grande mí­­dia nacional dá aos nossos eventos, da falta de consideração aos nossos melhores times, aos jogadores que por aqui se destacam e por aí em diante.

No fundo do fundo é um eterno jogo de forças. De tanto que os times do interior foram prejudicados na história ou que nossos representantes não conseguem se impor perante os mais fortes concorrentes nacionais. O que só se resolve, mesmo, em campo. Com resultados, resultados e resultados.

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