Lembro-me de um leitor ter me chamado de "traidor da pátria". Geralmente quem se manifesta e se comunica com os jornalistas (esportivos, especialmente) o faz para reclamar, para protestar e para xingar. É muito difícil alguém se dar um tempo para escrever uma mensagem elogiando ou concordando com um texto, uma opinião ou o que quer que seja.

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Pois, então, o leitor achou que eu estava contra o meu país. Tudo isso porque, quando crescia o movimento no Brasil para reivindicarmos o direito de sermos sede dessa Copa do Mundo, eu escrevi que tinha tudo para não dar certo. Isso apenas tomando por base os problemas que já se manifestavam na África do Sul, que seria a próxima anfitriã do Mundial.

Na ocasião, citava os desmandos e os desencontros dos Jogos Pan-Americanos de 2007, recém-findos com um turbilhão de queixas e denúncias de obras inacabadas e superfaturamento. E lembrava do vexame da Grécia, que abriu os Jogos Olímpicos de 2004 sem estar com todas as praças esportivas entregues. Mas o Brasil de então queria porque queria a Copa do Mundo por aqui. E não havia quem não torcesse a favor. Tanto que a grande maioria dos brasileiros comemorou junto com nossos políticos e dirigentes esportivos a confirmação da escolha, antecipando, da boca para fora, uma competição impecável.

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Por eu ter escrito que não seria assim, por não estar o país preparado para tal responsabilidade com seriedade e honestidade, fui contestado e ouvi ou li de pouca gente opinião semelhante.

E hoje garanto que boa parte desse pessoal que se manifestou está no rol daqueles que engrossaram a pesquisa dos que são contra a realização da Copa do Mundo por aqui. E que prometem manifestações (e arruaças, decorrências naturais) contra o maior torneio de futebol do mundo.

Como se agora adiantasse alguma coisa. Momento correto de protestar ou se manifestar era há sete anos, quando o pedido brasileiro estava sendo analisado pela Fifa. Se soubesse, na ocasião, que o povo brasileiro não queria a Copa, certamente Blatter, Valcke & cia teriam escolhido outra sede.

Presentemente temos os "do contra" de ocasião. Todo esse barulho é apenas perfumaria, uma enorme hipocrisia de quem se omitiu no momento de decidir e hoje embarca na onda ruidosa que as redes sociais costumam fazer, cada vez mais expondo as chagas brasileiras, como se estas fossem de agora, dos últimos dias, dos últimos meses ou dos últimos governos.

A Copa está aí, em 50 dias. Continuo achando que não deveria ter vindo. Mas, a essa altura, já que ela veio, estou plenamente alinhado com aqueles que apreciam o melhor do futebol e que torcem para que tudo dê certo por aqui (haverá problemas, sabemos disso, mas que sejam mínimos, pelo menos).

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É a festa maior do futebol; e isso, pelo menos, o brasileiro sabe fazer.

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