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Claro que foi importante o título da seleção brasileira nesta Copa das Confederações. Mas o maior legado desse curto torneio internacional em território nacional foi a constatação de pacífica convivência entre torcedores de times rivais. Lado a lado, em todas as cidades representadas na competição e naquelas onde foram realizados amistosos preparatórios, oponentes dividiam emoções e sentimentos, como se não tivéssemos vivido as tortuosas décadas recentes de tanto conflito em nome de cores clubísticas.

Nesse meio tempo não se ouviu das arquibancadas nenhum grito de guerra pregando violência, confronto ou pancadaria. No máximo alguns xingamentos em coro contra a arbitragem, pois, afinal, ninguém é de ferro.

Fico tentando imaginar que ensinamentos poderão ser tirados e aplicados nos estádios do país já a partir do fim de semana, com a retomada do Campeonato Brasileiro em suas divisões. E, pessimista, já arrisco responder: nenhum.

Os estádios por aqui são controlados por feudos, que se organizam na ocupação de uma zona geográfica ali dentro e da qual emanam comandos e vozes para conduzir o coro de toda uma torcida, seja no assunto que for. E quase sempre utilizando palavrões e provocações, que, queiram ou não, mexem com o comportamento de cada um, instigando a possibilidade os refrões se transformarem em atos conforme o clima criado em cada partida.

Esses núcleos de comandos não foram formados na Copa das Confederações, pois, com os ingressos sendo vendidos via internet com a livre escolha de lugares, não havia como se prever quem seria o companheiro ao lado, abaixo ou acima. E o torcedor brasileiro – o mais jovem, especialmente, que em sua existência ainda não havia constatado – pôde perceber que é possível ir a campo e assistir a um jogo sentado, sem ser obrigado ou pressionado a se levantar a todo o instante para ficar gritando refrões.

Sou do tempo de famílias irem juntas ao grande clássico e se dividirem somente nos portões de entrada, para cada um ficar no espaço destinado aos torcedores de seus times. Terminada a partida, ponto de encontro ali na frente do estádio e, cada qual com o uniforme de sua preferência, o pacífico retorno ao lar. Isso foi possível observar na Copa das Confederações e ninguém ficou menos macho ou mais poltrão por ter agido assim.

Pena que tudo isso vai acabar já no fim de semana. Ou pelo menos enquanto os vândalos infiltrados entre os torcedores (o que também vale para as grandes manifestações vividas pelo país) continuarem impunes e levarem somente um pito a cada detenção por arruaças, conflitos e badernas.

Será que podemos ter alguma esperança de mudanças?

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