Todo técnico iniciante deveria ler o perfil de Josep Guardiola publicado no último domingo no caderno Ilustríssima, da Folha de São Paulo. Aliás, todo profissional, em começo de carreira ou não, deveria lê-lo. Em uma narrativa detalhada, o jornalista Alexandre González mostra a obstinação do catalão em se aprimorar no emprego que escolheu. Uma atitude não muito típica em se tratando de ex-jogadores que viram treinadores, em especial no Brasil.
Guardiola, que foi um bom jogador, defendendo as cores do próprio Barça e da seleção espanhola, não caiu no erro recorrente de quem deixa o gramado. Não acreditou pura e simplesmente em seu conhecimento de ex-atleta e no instinto. Foi atrás de uma formação sólida e uniu o conhecimento técnico estudado na Escola Nacional de Futebol Espanhola ao prático, ao procurar treinadores experientes para passarem a ele seus conhecimentos.
Nesse ponto que o perfil me chama a atenção. Muitos devem imaginar que o Guardiola treinador foi moldado nos quadros do próprio Barcelona. Em parte, sim. Ao assumir o Barça B, em 2007, Guardiola estava sendo preparado para assumir o time principal, que enfrentava problemas sob o comando do holandês Frank Rijkaard e a má influência de Ronaldinho Gaúcho e Etoo no elenco. Mas a formação principal do técnico que hoje comanda a principal equipe do mundo foi a própria busca por conhecimento.
E mais uma vez o perfil surpreende. Ao invés de buscar sua formação dentro da filosofia do próprio Barcelona, cuja semente foi plantada por Johan Cruyff há três décadas, Guardiola teve o futebol argentino como fonte.
Assim que decidiu ser treinador, foi conversar com Angel Cappa (auxiliar-técnico de Cesar Luiz Menotti no título mundial de 1978 e de Jorge Valdano no Real Madrid), Ricardo La Volpe (que comandou o México na Copa de 2006) e Marcelo Bielsa (que treinou a seleção argentina no Mundial de 2002). Com eles, passou horas aprendendo sobre sistemas táticos, movimentação em campo, peças de reposição, formação de elenco...
O que o texto só não fala é que Guardiola não ficou só nas escolas argentina e catalã. Como o repórter Leonardo Bonassoli revelou em entrevista com o ex-técnico Pepe em dezembro do ano passado, pouco antes da final do Mundial de Clubes entre Barça e Santos, Guardiola já estava investindo na formação de técnico quando ainda era jogador. "Ele mostrava sempre muita curiosidade sobre mim, Pelé, Coutinho, e, principalmente, o Clodoaldo, que era da posição dele", disse Pepe sobre o período em que comandou o hoje técnico do Barça pelo Al-Ahli, do Catar, entre 2003 e 2006. Prova de que Guardiola soube mesmo ir nas fontes certas.