Quem passou dos 30 anos conheceu a charmosa carteirinha da Federação Paranaense de Futebol (FPF). Com ela em mãos, crianças até 16 anos não pagavam ingresso nos jogos do estado. Baixada, Couto Pereira, Pinheirão, Vila Capanema, independente de horário, dia e importância dos jogos, eram a diversão número 1 de uma geração de piás. Os novos tempos, com suas vantagens e desvantagens, puseram fim à benesse infantil.

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A gurizada da época se acostumou a ver in loco partidas de todos os times da cidade. O custo era apenas a passagem do ônibus. Havia uma catraca especial em cada estádio para garantir o livre acesso dos cadastrados. Para ganhar a isenção bastava ir a qualquer loja esportiva Fedato (não existem mais) e preencher uma ficha de inscrição com foto 3x4. Com o passar do tempo, por motivos óbvios, os clubes não aceitaram mais essa interferência externa da FPF. O primeiro raciocínio foi simplista: essa molecada é público consumidor, ocupa espaço e não merece a entrada na faixa.

Hoje, talvez uns 25 anos após a abolição da carteirinha, é possível dizer que ela foi um grande investimento no médio prazo. Uma geração inteira não se contenta com as facilidades da televisão, a comodidade de ficar em casa, abrir mão de sofrer ou vibrar nas arquibancadas... Quem foi fisgado pela lógica ‘criança free’ carrega a tradição de sair do trabalho, almoçar com a família e abandonar o sofá em dias de bola rolando.Não há dúvidas que havia jogo político nessa vantagem dada aos moleques dos anos 80 e 90. A estratégia deve até ser vista como imoral pela lógica econômica – muito embora o menor quase sempre estava acompanhado de alguém que pagava a inteira. Mas o legado está aí. Quem tinha passe-livre agora está fomentando a estrutura associativa das agremiações. Não conseguem, em regra, abandonar a cultura de gritar gol no lugar mais adequado. Mais do que isso: transmitem essa magia para os descendentes.

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Para o bem ou para o mal, a carteirinha da Federação foi a última política estadual eficiente para conquistar torcedores de verdade (não virtuais). Partia da lógica que a identidade como fã de bola era construída na adolescência. Servia como contra-ataque à importância dada aos grandes do eixo Rio-São Paulo na mídia. Algo para refletir em tempos que o Chelsea tem mais espaço no noticiário do que 90% das equipes brasileiras e os times periféricos são cada vez menos importantes na pauta jornalística.

Como ninguém nasce amando uma camisa, fica a dúvida de como Coritiba e Atlético (o Paraná em menor escala) esperam renovar sua legião de fãs. A aposta na transmissão via sócios tem um viés elitista. Como ficará a grande fatia do mercado que não terá relação alguma com os estádios? Paga cerca de 50 dólares no ingresso "para ver se é bom" ou investe na facilidade de abraçar o Barcelona? Se eu não fosse de outro tempo, não teria dúvida.