A vida é feita de personagens. Para o bem ou para o mal. E o Atletiba de número 352, que decretou nos pênaltis mais um título paranaense para o Coritiba no domingo, elevou dois desses artistas para o Olimpo do clássico um dos mais charmosos do mundo por causa da combinação de cores. Tcheco foi ao céu; Guerrón lambeu a sarjeta.
O coxa-branca já tinha muita moral no Alto da Glória, mas agora ganhou a chave do clube, como fez questão de ressaltar Ernesto Pedroso, um dos dirigentes que compõem a tropa de choque administrativa liderada por Vilson Ribeiro de Andrade. "Ele pode tudo", avisou Pedroso tão logo a agonia dos pênaltis chegou ao fim.
Justíssimo. Tive pouco contato com Tcheco em dez anos de jornalismo. Em uma das vezes, meados de 2005, entrevistei-o por telefone. Ele era o "cara" do Al-Ittihad, da Arábia Saudita. Mais de 20 minutos de conversa e muitas respostas sinceras. Avisou que voltaria assim que desse para mais uma passagem pelo Grêmio e outra pelo Coritiba. Dito e feito. Retornou e enfileirou mais algumas faixas de campeão.
Em entrevista publicada na edição de domingo desta Gazeta do Povo, Tcheco falou que uma de suas frustrações foi nunca ter sido testado na seleção brasileira. Faço coro. Merecia ter usado a amarelinha ao menos em um amistoso (afinal, gente, Zé Carlos foi vice-campeão do mundo).
Tcheco está perto do fim. Decidiu que chegou a hora de largar a chuteira velha em um canto da casa e tentar a vida como dirigente.
Que leve toda essa transparência demonstrada como jogador para os gabinetes fechados. Locais em que arranjos e rearranjos, contratações, indicações e dispensas são feitas, algumas vezes sem levar muito em consideração o que é melhor para o clube. Qualquer clube. Um velho vício do futebol tupiniquim. Irá arejar o ambiente. Boa sorte, Tcheco.
Guerrón vive o contraponto de colega coxa-branca. Saiu de fininho do Couto Pereira no domingo, sem falar com ninguém, remoendo o chute fraco que parou nas mãos de Vanderlei.
A fria segunda-feira também não deve ter sido fácil para o equatoriano. Nem o castelo em que se transformou o CT do Caju serviu para blindar o atacante. A cobrança é interna. Em algum momento ele se perguntou por que com ele? Por que justo agora, no momento em que esboçava ter feito as pazes com o seu melhor futebol? O mundo da bola é assim. A vida é assim.
O bom é que já tem jogo amanhã, contra o Palmeiras, pela Copa do Brasil, para Guerrón iniciar a recuperação moral. Personalidade para quem costuma se apresentar com um "oi, soy Guerrón!", parece não lhe faltar. Boa sorte, Guerrón.
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