Os olhos em Portugal estão voltados para Cristiano Ronaldo. É só o jogador pisar no belíssimo gramado da Bekker High School, um dos melhores e mais estruturados centros de treinamento de rúgbi da África do Sul, para um exército de fotógrafos, cinegrafistas e repórteres o acompanharem com lentes e microfones. É como se Nani, Deco, Liédson e os outros 19 convocados não existissem.
Estão todos ansiosos para ouvi-lo falar, mas o departamento de comunicação da Federação Portuguesa prefere preservar o atacante. Ainda mais se o pedido para entrevista vem de um repórter brasileiro. "Impossível", diz o assessor, saindo rapidamente do local.
Eleito pela Fifa o melhor jogador do mundo em 2008, Ronaldo voltou a ser manchete. Os portugueses perceberam "uma certa tristeza" no semblante do atacante do Real Madrid durante o embarque do time para a África do Sul. Carlos Queiroz, técnico dos lusitanos, tratou de desmentir ontem o boato, em sua primeira entrevista em Magaliesburg, pequena de cidade agrícola a cerca de 70 quilômetros de Johannesburgo o bucólico lugar foi escolhido pelo treinador por causa da segurança e da tranquilidade para se trabalhar.
"Ele deve ter perdido um jogo de pingue-pongue", afirmou Queiroz, abusando da ironia. "A linguagem corporal de um jogador não quer dizer nada. Apenas 32 equipes chegaram à Copa do Mundo, e temos de desfrutar de cada momento", emendou ele, conhecido por ser carrancudo nas respostas.
Aconselhado a ficar quieto, Ronaldo tratou de desmentir o boato com gestos. Permaneceu, durante os 15 minutos em que os repórteres tiverem acesso ao treinamento, próximo ao cercado destinado à imprensa. Sorriu à vontade. Brincou com o brasileiro Liédson, provocou Fábio Coentrão e debochou dos erros do amigo Danny na roda de bobinho. "Só você mesmo Danny", gritou, rindo, depois de o companheiro quebrar a sequência de 18 passes certos. Queria mostrar que tudo estava bem, para por fim às desconfianças dos conterrâneos.
Os lusos andam ressabiados com a seleção, por isso a marcação cerrada em cima de Cristiano Ronaldo. Querem primeiro se classificar no equilibrado grupo G, mas sonham em bater o time de Dunga e ficar com a liderança da chave fugindo do clássico ibérico com a Espanha nas oitavas de final. "Os espanhóis são um dos favoritos ao título, assim como o Brasil. Vocês têm condição de batê-los, nós não. Bem que poderiam fazer esse favor", pediu o moçambicano Nuno Barata, 30 anos, um fanático torcedor do Porto que já rodou o mundo por causa da paixão pelo futebol. "Vi Boca e Estudiantes na La Bombonera, Universidade do Chile e Colo Colo em Santiago, Fla x Flu...".
Colocado para falar antes de Queiroz, o zagueiro Bruno Alves tratou de imitar Ronaldo na tentativa de acalmar a torcida. "Temos qualidade individual. Estamos concentrados no nosso trabalho e em estudar os adversários. Se não for possível (chegar classificado ao duelo com a seleção brasileira, dia 25, em Durban, faremos de tudo para vencê-los. Sabemos que se trata de uma potência mundial, mas nós também temos um potencial enorme", cravou o defensor.