O começo foi meio morno, mas quando a fase de grupos da Copa do Mundo pegou fogo, foi com uma intensidade memorável. Zebras incríveis, inclusive a inédita saída dos dois finalistas do Mundial anterior, frangos bizarros e uma esfuziante goleada de 7 x 0 marcaram estas emocionantes duas primeiras semanas de torneio na África do Sul.
Houve também algumas frustrações, a começar do continente anfitrião. Dos seis representantes africanos, só Gana passou às oitavas de final, e a África do Sul entrou para a história como primeiro país-sede a cair na primeira fase.
E os Bafana Bafana haviam começado cheios de entusiasmo, com um empate em 1 x 1 contra o México, num bem disputado jogo de abertura. Mas, como tantas outras seleções, a de Carlos Alberto Parreira preferiu valorizar a segurança acima de tudo, o que desandou na derrota de 3 x 0 contra o Uruguai.
Vários times entraram na primeira rodada tão preocupados em não perder que se esqueceram de tentar ganhar. Para Costa do Marfim, Camarões, Grécia e Sérvia, esses seriam jogos decisivos, mas a mentalidade de curto prazo lhes custou caro - a volta para casa.
Início ruim
Os casos de Itália e França foram diferentes, e seus maus resultados iniciais eram mais fruto de um jogo desgastado do que da falta de ambição.
A notável implosão da França dentro e fora do gramado será a única lembrança que os Bleus deixarão nesta Copa. Eles empataram sem gols na estreia contra o Uruguai, foram dominados em seguida pelo México, e chegaram mentalmente devastados ao fatal jogo contra a África do Sul.
A Itália, pálida sombra da campeã de 2006, não esteve muito melhor, embora pelo menos tenha lutado com afinco até o final. O time foi improdutivo no empate com o Paraguai, mostrou-se terrivelmente burocrático no empate com a Nova Zelândia, e mereceu a derrota por 3 x 2 contra a Eslováquia.
Campeão e vice da última Copa partem após terminarem em último lugar em grupos que pareciam fáceis. O único consolo para seus treinadores, Marcello Lippi e Raymond Domenech, é que eles já haviam anunciado sua saída anteriormente.
Não foram os únicos gigantes acuados. A Espanha, campeã europeia e ainda uma das favoritas, foi surpreendida na estreia com um 1 x 0 contra a Suíça, mas se recuperou com vitórias sobre Honduras e Chile. A Inglaterra começou a Copa com dois empates e se classificou em segundo lugar na chave. A Alemanha perdeu para a Sérvia no seu segundo jogo, mas se classificou ao vencer Gana.
Quem achava que uma Copa feita no inverno ajudaria os jogadores europeus ficou sem argumentos. A Holanda foi o único time do continente a se classificar com três vitórias, embora Portugal também tenha feito uma campanha convincente.
"Copa América"
A grande força da Copa até agora é a América do Sul, e desta vez não são só Brasil e Argentina que impressionam. Uruguai e Paraguai venceram grupos complicados, e o Chile conseguiu a vaga após duas vitórias na primeira fase.
Eslováquia, Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul também garantiram vaga nas oitavas de final apresentando um futebol ofensivo e aguerrido.
A ascensão deles talvez prove que hoje em dia não há mais jogo fácil numa Copa.
"Houve muitas surpresas, e os times demonstraram que não há tanta diferença entre eles", disse o meia-atacante holandês Arjen Robben à Reuters.
A vitória eslovaca sobre a Itália, especialmente nos agitados 20 minutos finais, provavelmente será lembrada como o grande jogo desta fase, mas outros certamente também merecem uma menção.
Austrália e Sérvia eram como dois pugilistas pesos-pesados ao final do 12º round, nocauteando-se mutuamente e caindo abraçados.
A Coreia do Norte, depois de chegar a dar um susto no Brasil ao perder só de 2 x 1, foi massacrada por uma inspirada seleção portuguesa, 7 x 0. A Nova Zelândia conseguiu a façanha de terminar a Copa invicta, após três empates.
A famosa previsão de Pelé de que uma seleção africana ganharia a Copa antes do fim do século não se cumpriu no século 20, e, a julgar por esta Copa, talvez não se cumpra neste também.
O continente levou um número inédito de seleções ao torneio - seis -, mas quase todas foram dominadas por seus rivais, e conflitos internos continuaram sendo um problema. Mesmo Gana se classificou marcando apenas dois gols, ambos de pênalti.
Até agora tem sido dramático, divertido e animador para os peixes pequenos que continuam vivos, mas os tubarões Brasil, Argentina e Alemanha, donos de dez títulos mundiais, ainda rondam ameaçadoramente nas profundezas.
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