Soweto, bairro de Naledi, Rua Mojafela. Nessa pobre comunidade distante uma hora de carro do centro de Johannesburgo está uma das maiores expressões de alegria, paixão e vontade de ver o futebol como instrumento de união mundial.
Nas 46 casas da rua, cada morador, independentemente de sua possibilidade, doou 45 rands (R$ 11) para ter nas fachadas duas bandeiras de países que disputarão o Mundial.
Os pavilhões preferidos, além do sul-africano, são os do Brasil e das outras nações africanas. Na verdade, para os cerca de 200 habitantes do lugar, o que vale é ter um símbolo nacional em frente à sua morada e a sensação de ser um participante da competição esportiva.
Homens, mulheres e crianças foram saindo dos portões para cantar, dançar e fazer efervescer o clima da Copa do Mundo. No centro e nas regiões mais favorecidas da maior cidade sul-africana, tal ambiente ainda é praticamente imperceptível.
O rúgbi e o críquete, preferência dos brancos, dominam as regiões mais abastadas, mas perdem para o esporte da Copa no Soweto. Na principal township (espécie de favela) da cidade, local que representou a resistência ao apartheid, o que vale é a satisfação de receber as seleções e torcidas internacionais.
"Bafana and Brasil, yaya, Bafana and Brasil, yaya", saudavam cantando, chacoalhando o corpo para demonstrar o sentimento trazido pela possibilidade de mostrar a dança, uma das mais valiosas virtudes de sua cultura.
"Somos torcedores dos Bafana, mas se eles não chegarem, o Brasil esta aí para ser o campeão", diz Jenifer Ngobese, uma moradora que nem se importava de ter a bandeira da China que não está na Copa no telhado próxima à da África do Sul.
O desejo de estarem inseridos no Mundial é tanto, que mesmo sem ingressos para nenhuma partida os moradores da Mojafela irão promover um churrasco na rua para celebrar a abertura do torneio 11 de junho os anfitriões enfrentam o México.
Antes disso, porém, pedem à reportagem brasileira uma tarefa bem mais difícil. Se um dos 23 convocados da seleção canarinho aparecer no lugar, o êxtase será incontrolável.
"Por favor, tragam o Kaká aqui. Gostaria que o Ronaldinho também viesse. Ele é um mágico da bola, mas como não está convocado, tragam o Kaká", implora Papa Mohari, de 40 anos.
Em meio à festa que toma conta do lugar com a proximidade da Copa, até mesmo os carros que tentam passar na rua apertada entram no clima. Uns param, outros buzinam e concorrem com o soar das vuvuzelas nas mãos das crianças.
Os pequenos sul-africanos, às vezes nem vencem segurar as enormes cornetas, mas não deixam de entregar-se aos movimentos com os mais velhos. Camisas dos Bafana Bafana e adereços do Brasil não estavam preparados para a reportagem que chegou de surpresa.
Orgulhoso pelo seu país e não ligando para o sapato furado e calça rasgada que veste, Sabelo Sabza, de 14 anos, segura a bandeira do Brasil sobre o muro de sua casa e diz: "É o meu país na Copa do Mundo."
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