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Reportagem que foi ao ar na noite deste domingo (6) pelo "Fantástico", da TV Globo, mostrou que o celular do franco-argelino Mohamadou Lamine Fofana, 57, apontado como o chefe de uma quadrilha de venda ilegal de ingressos para a Copa do Mundo, tinha registrado em sua memória ao menos 900 ligações para um telefone oficial da Fifa no Brasil desde que o torneio começou.

A informação reforça a suspeita da Polícia Civil do Rio de que há entre os envolvidos na quadrilha de cambistas algum funcionário da entidade.

De acordo com a reportagem, a polícia pediu à federação o registro com o nome dos usuários dos telefones ativados em nome da Fifa no Brasil. A entidade ainda não teria atendido ao pedido, segundo a reportagem.

Fofana foi preso em um apartamento na Barra da Tijuca, na última terça-feira (1º), em operação da polícia do Rio que prendeu 11 pessoas por desvio e venda ilegal de ingressos para o mundial.De acordo com a reportagem, quando foi preso, na última terça-feira (1º), Fofana tinha um caderno com a contabilidade da venda de ingressos para diversas partidas do mundial.

As anotações mostram que para o jogo Brasil e Croácia, o primeiro do torneiro, Fofana tinha 52 ingressos VIPs, que dão direito a entrada em camarotes com serviço de bufê, disponíveis para venda. Bilhetes da chamada primeira categoria custavam R$ 12.600 por pessoa. Para os da segunda eram cobrados R$ 11.190 cada.

Além disso, no caderno de Fofana constavam a disponibilidade de 20 ingressos para Uruguai e Inglaterra e 40, para Brasil e Camarões, ambos jogos da primeira fase. Os 112 ingressos da primeira fase teriam sido vendidos pelo franco-argelino teriam rendido ao esquema, segundo as anotações apresentadas pela reportagem do "Fantástico", R$ 912 mil.

A contabilidade mostrou ainda que para a final do mundial, que será disputada no próximo dia 13, o esquema tinha disponível 25 ingressos para área VIP.

De acordo com a reportagem, a polícia chegou à quadrilha depois de prender um brasileiro, que teria oferecido dinheiro e ingressos a policiais em troca de sua liberdade. A polícia filmou com uma câmera escondida a negociação e os policiais fingiram aceitar a propina. O homem voltou a operar no esquema ilegal, o que permitiu a polícia identificar outros integrantes.

Um terceiro envolvido mostrado na reportagem figura entre os 11 presos da operação. Em grampo telefônico, ele é flagrado negociando com um gerente de banco a retirada de uma quantia em dinheiro que demandaria o uso de um carro forte para ser transportada. Segundo o "Fantástico", o homem pretendia transportar R$ 177 mil em dinheiro.

A reportagem também traz a informação, já anteriormente ventilada pela polícia, de que integrantes da CBF estariam entre os envolvidos. Uma conversa telefônica interceptada mostra Fofana conversando com uma pessoa não identificada que diz que teria que buscar ingressos diretamente na Granja Comary, concentração da seleção em Teresópolis, região serrana do Rio.

A reportagem apresentou ainda imagens feitas pela Polícia Civil de Fofana comprando garrafas de bebida em um aeroporto do Rio. Os produtos foram entregues como presente aos jogadores brasileiros que participaram da campanha do tricampeonato mundial, em 1970, em uma festa dada em homenagem à seleção da época.

Entenda o caso

A Polícia Civil do Rio prendeu 11 pessoas na última terça-feira (1º) suspeitas de integrarem uma quadrilha de desvio e venda ilegal de ingressos para Copa do Mundo. A operação, batizada de "Jules Rimet", teve apoio Ministério Público e do Juizado do Torcedor e já vinha sendo conduzida há dois meses.

Mais de uma centena de bilhetes foram apreendidos com as pessoas presas. Os bilhetes comercializados, segundo as investigações, eram de cotas cedidas pela Fifa a patrocinadores e delegações de seleções. O esquema funcionaria desde a Copa de 2002, realizada na Coreia do Sul e no Japão. Ainda de acordo com as investigações, o grupo faturava até R$ 1 milhão por jogo.

A polícia fez prisões no Rio e em São Paulo. Entre os presos está Fofana.Durante a semana, o promotor do caso, Marcos Kac, disse abertamente que havia um integrante "graúdo" da Fifa envolvido no esquema. Até o momento, seu nome não foi divulgado. A Fifa, por sua vez, nega que funcionários da entidade teriam relação com cambistas.

Segundo o delegado Fabio Barucke, da Polícia Civil, um funcionário da Fifa e outro da empresa Match Services, responsável pela venda de ingressos da Copa, são suspeitos de participarem da quadrilha. Além deles, um chinês atuaria em São Paulo negociando ingressos para a quadrilha.

Na noite da última segunda (30), dois americanos e uma italiana foram presos em flagrante ingressos para a Copa, que vendiam pelos sites das empresas Ludus Tours e Red Carpet.

Entre os ingressos que a polícia informou ter apreendido durante a operação, aparece um com o nome de Humberto Mario Grondona, filho mais velho do presidente da AFA (Associação de Futebol da Argentina) e vice da Fifa, Julio Grondona. O filho do cartola negou participação no esquema. Procurada, a AFA disse desconhecer qualquer esquema de desvio de ingressos da Copa.

A Fifa, que inicialmente havia dito que o caso de Grondona já estava esclarecido, informou neste domingo (6) que pedirá esclarecimentos por escrito ao filho do cartola.

Segundo a polícia, as delegações do Brasil, Argentina e Espanha também estão sendo investigadas por suspeita de repassarem ingressos de sua cota ao esquema. Procurada, a CBF afirmou não ter sido informada de modo oficial. Disse que os bilhetes que recebe da Fifa têm controle numérico, mas não discriminação nominal.

A cada jogo, a Fifa distribui 700 ingressos para cada federação cuja seleção está em campo. Além disso, a CBF recebeu uma carga de 30 mil entradas extras por ser a federação da sede do Mundial.As investigações sobre o esquema começaram há três meses. São 50 mil registros de gravação. A Polícia Civil ouviu até o momento 25 mil, o que indica aos policiais que outras pessoas ainda podem surgir no esquema.

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