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| Foto: Juan Espinosa/EFE

Com os olhos marejados, Ricardo Madrigal repetia, após o pênalti perdido por Umaña: "Belo papel... Belo papel...". O fluxo emocional de tristeza e satisfação do costa-riquenho, que quase acertou o bolão informal realizado entre brasileiros e argentinos ao seu redor – ele apostou que sua surpreendente seleção venceria nas penalidades –, deu o tom ambíguo da Fifa Fan Fest Curitiba deste sábado. "Nós fomos muito bem, seguramos um grande time. Belo papel", repetia.

Se Madrigal parecia aceitar com certa resiliência a derrota, afinal, nunca a Costa Rica havia chegado tão longe, o mesmo não parecia se suceder com o representante comercial Rens Evers, que passou o jogo amaldiçoando o desempenho da Laranja Mecânica. O holandês de Eindhoven e alguma similaridade sentimental com o pouco humorado técnico Louis Van Gaal, passou a partida de cara amarrada. Não raro seu copo de cerveja assumiu caminhos pouco ortodoxos e molhou um vizinho irlandês e o companheiro de sina Bob Relchert. Relchert, aliás, tinha arriscado um fácil 3 a 0 à sua seleção. "Nós temos um time muito melhor". Engano.

Os holandeses e costa-riquenhos de RG eram poucos na Pedreira Paulo Leminski, mas o mesmo não se podia dizer dos argentinos, que ficaram em bom número para descobrir o adversário das semifinais. E a torcida pró-Costa Rica foi imperial. "Preferíamos os ticos. Mas, enfim, para ser campeão não podemos escolher adversário", dizia o portenho Maximiliano Suarez, supervisor de logística. "Nós tivemos um jogo travado e o nosso melhor jogador não brilhou. Mas temos esperança de que iremos para final e ganharemos o jogo. Do Brasil", completou, com um sorriso indisfarçável seguido de um abraço no repórter. De fato, a torcida pela simpática Costa Rica foi maciça, embora controversa. Havia, sim, o nítido incentivo ao teoricamente mais fraco – cada defesa do arqueiro costa-riquenho era comemorada como se gol –, contudo, não deixava de ser fascinante o desejo para que os hermanos pegassem um adversário mais poderoso. "O time da Costa Rica é muito ruim!", argumentava o vendedor Antônio Souza. O pernambucano Théo Rocha, neto de avôs holandeses, não escondia a ansiedade para o próximo jogo. "A Holanda tem um grande ataque. Quero ver o Robben pra cima daquela defesa lenta da Argentina".

Tremendão

Se o jogo de nível técnico duvidoso despertava intenso alvoroço, outro fator psicológico abateu os presentes no segundo tempo: o frio. Numa tarde que se mostrava agradável, Curitiba tratou de bipolarizar e trazer, juntamente com a lua, uma queda de temperatura que sensibilizou os transeuntes, muitos de camiseta e bermuda. Para espantar o frio, depois do surto psicótico do técnico holandês de trocar o goleiro no último minuto da prorrogação e a posterior consagração, a Pedreira recebeu o show de Erasmo Carlos, o que impressionou um tanto Severina Castagnara, de 87 anos. "O Erasmo está aqui?". Aquém das surpresas, a simpática senhora de Passo Fundo estava animada com o espírito de Copa. "Estou gostando muito dessa bagunça toda", dizia enquanto uma horda de seis crianças, bem próximas, se espancava com os bastões infláveis distribuídos pela organização. Diferentemente da Dona Severina, o público que enfrentou o frio parecia bem preparado para receber o Tremendão. Talvez um pouco desafinado e dizendo sentir um orgasmo inenarrável por tocar em Curitiba, Erasmo abriu com "Gigante Gentil", canção que dá nome ao seu novo álbum. Na sequência, sucessos afetivos como "Vem Quente Que eu Estou Fervendo", "Mulher (Sexo Frágil)", "Mesmo Que Seja Eu" embalaram os locais. "Fiquei muito comovida quando tocou ‘Sentado à Beira do Caminho’... Ah, são tantas lembranças e histórias", comentava a aposentada Thelma de Oliveira.

Um dos momentos mais marcantes do show foi quando Erasmo, muito emocionado, quase às lágrimas, cantou "É Preciso Saber Viver".

O costa-riquenho Madrigal não ficou até o fim do show. De férias na capital, ele contava como conheceu, há um ano, o curitibano Otávio Vale numa praia de San José, capital da Costa Rica. "Ele estava sozinho e puxou conversa comigo. Hoje é um dos meus grandes amigos, um pura vida que me acolheu na Copa". Madrigal não se despediu sem antes se derreter por Curitiba. "Eu vou dar um jeito de vir morar aqui. Vocês são incríveis. Mas como esfria de repente, né?".

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