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Casa do Borussia Dortmund, o Signal Iduna Park, ex-West-falenstadion, tem média superior a 80 mil pessoas por jogo | Wolfgang Rattay/Reuters
Casa do Borussia Dortmund, o Signal Iduna Park, ex-West-falenstadion, tem média superior a 80 mil pessoas por jogo| Foto: Wolfgang Rattay/Reuters

Dois anos depois...

A Fifa oficializou em abril a criação do Fundo de Legado da Copa do Mundo de 2010. O objetivo é selecionar projetos que incentivem, por meio do esporte, atividades educacionais, humanitárias e de desenvolvimento do futebol na África do Sul. Eles devem começar a funcionar efetivamente em 2013. A entidade informou que transferiu para a conta deste fundo 450 milhões de rands, o equivalente a pouco mais de R$ 100 milhões.

  • O Cape Town é um dos estádios da Copa de 2010 com dificuldades para arrecadar mais do que gasta

Se não há planos concretos para o surgimento de um legado esportivo com alcance social no Brasil após a Copa, o mínimo a se esperar é que não restasse nas mãos do estado o ônus de administrar elefantes brancos. Porém o país parece estar seguindo o caminho da África do Sul, que vê pelo menos cinco estádios do Mundial de 2010 terem problemas em relação à sobrevivência financeira, ignorando o bom exemplo da Alemanha de 2006, onde as praças esportivas são plenamente utilizadas.

"Temos tudo para ser Alemanha. Potencial, futebol, clubes fortes, economia, mas estamos mais para África. O maior erro do Brasil está na inflação dos preços", diz Amir Somoggi, diretor da área de consultoria esportiva da empresa BDO RCS. Os alemães gastaram cerca de R$ 3,5 bilhões com os estádios. O Brasil havia divulgado um orçamento de R$ 5,3 bilhões, que já passou para R$ 7 bilhões.

Apesar de os campos sul-africanos serem utilizados com certa frequência para eventos musicais, jogos de futebol e de rúgbi, o custo de manutenção do Moses Mabhida, em Durban; Cape Town Stadium, na Cidade do Cabo; Nelson Mandela Bay, em Port Elizabeth; Peter Mokaba, em Polokwane; e Mbombela, em Nelspruit, é maior do que a capacidade de arrecadação – segundo estudo do especialista do país Eddie Cottle.

Além do alto investimento nas obras, o futebol brasileiro não está no patamar financeiro do alemão, um dos mais rentáveis do Velho Continente. "Na Europa um clube consegue manter seu estádio com 28 jogos por ano. No Brasil os clubes jogam em média 35 vezes em casa", ressalta Somoggi. Com exceção de Internacional, Atlético e Corinthians, os times não serão os maiores beneficiados por não serem donos das praças esportivas.

Entre os estádios públicos, o Tribunal de Contas da União (TCU) aponta que pelo menos quatro correm grande risco de não conseguirem se manter após o Mundial: os de Manaus, Cuiabá, Brasília e Natal – sem clubes com apelo para fazer uso pleno das instalações. Temor endossado por Somoggi, para quem essas cidades não têm a menor possibilidade de conseguir o retorno do investimento. Mesmo com times de maior apelo, Fortaleza e Recife permanecem como incógnitas por ainda não saberem qual será o uso das novas construções após a Copa.

Na contramão do relatório do TCU, Demétrio Torres, da Secretaria Extraordinária para Assuntos Relativos à Copa do Mundo 2014 no Rio Grande do Norte (SECOPA-RN), informa que a aposta para Natal é em uma arena multiuso que incluirá área para convenções, restaurantes e lojas. "A utilização comercial do estádio no momento pós-Copa será gerida pelo setor de eventos do consórcio [responsável pela construção], que fará a promoção de shows musicais, jogos amistosos e captação de convenções para o complexo Arena das Dunas".

A Unidade Gestora do Projeto Copa de Manaus (UGP-COPA) segue o mesmo caminho, apostando em eventos e shows para movimentar a Arena Amazônia.

Para Somoggi, no entanto, está claro que o que sustenta um estádio são jogos de futebol. "As receitas das chamadas arenas multiuso devem ser adicionais e não prioritárias. Essa questão é para completar o orçamento", alerta.

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