Johannesburgo é uma cidade espalhada. Tudo sempre parece muito longe. E é de longe que se consegue ver o colossal e suntuoso Soccer City, um gigante de concreto encravado no meio do nada, a alguns quilômetros do Soweto, a principal favela da cidade. Um oásis. Quando, enfim, se chega perto do estádio, palco do jogo de abertura e da decisão da Copa de 2010, a sensação para quem gosta de futebol é de que você está hipnotizado por aquela fachada que mistura marrom e laranja, cores típicas da cidade.
Mas, voltando à realidade, fica muito fácil entender o que ouvi da boca de muitos sul-africanos durantes os 45 dias de cobertura da Gazeta do Povo. "É lindo. Mas o que faremos com ele após o Mundial?"
Fato. Depois que a Espanha foi campeã, o complexo viveu de espasmos, sem nunca contar com todos os seus 90 e tantos mil assentos ocupados. Ou seja, Johannesburgo não precisava do Soccer City. O país não tem tradição no futebol e, para o rúgbi, a grande paixão dos conterrâneos de Nelson Mandela, o antigo Ellis Park, central e de fácil acesso, já estava mais do que suficiente. Mas ordens são ordens e a África optou por concordar com o manual da Fifa.
Esse é o mais forte exemplo de que o legado esportivo nem sempre é levado em consideração pela Fifa, para não ser tão exigente. Há mais. O estádio de Port Elizabeth, palco da eliminação do Brasil ante a Holanda, vive às moscas. Sim, não existia "time grande" na cidade para usá-lo. Mas... A ideia era deixá-lo à disposição das crianças, fazê-lo sede de grandes gincanas. Tudo com muito dinheiro público. Algo bem parecido com o que acompanhará toda e qualquer linha que se for escrever sobre as novas casas de Manaus, Cuiabá ou Natal.
Carlos Eduardo Vicelli, editor-assistente, enviado especial da Gazeta do Povo à Copa de 2010.
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