A promoção da Copa 2014 confirma a transformação do Brasil de coadjuvante em protagonista do espetáculo da globalização, apresentado ao mundo desde o fim dos anos 1980, mais em virtude dos avanços econômicos e sociais registrados pelo país e menos por carregar o rótulo de "pátria das chuteiras".
Aliás, uma incursão desprovida de paixão permitiria constatar que, no tempo presente, o país do futebol seria a Espanha, se for levado em conta o emprego da lógica microeconômica na gestão dos negócios que envolvem o esporte. Mas é prudente reconhecer o mérito da escolha da nação pentacampeã, a despeito da natureza autocrática predominante no comando das operações, resultando na contraditória constatação, na maioria dos casos, de clubes falidos, ou endividados com a previdência, e dirigentes capitalizados.
Ainda assim, o futebol brasileiro representa um palco de preparação de profissionais da área para o mundo e preserva a característica de meio de ascensão social na cadeia produtiva a ele articulada, que começa com a tarefa de descobridores de craques, passa pelo oligopólio dos empresários e dos contratos de publicidade e chega às estruturas (empresariais, em reduzidas situações) dos clubes.
Simulações econômicas revelam impactos pontuais e moderados da Copa no Brasil, computando os empreendimentos antecedentes, capitaneados pela construção civil com a montagem e ampliação dos estádios e a recuperação da infraestrutura urbana , e os efeitos nas áreas de comércio e serviços, especialmente no turismo. De acordo com exercícios estatísticos, as obras deverão provocar subida da taxa de investimento média anual do país de 18% para 18,2% do Produto Interno Bruto (PIB).
Até porque, a Copa apanha o país com apreciáveis estrangulamentos aeroportuários e em transporte metropolitano, consequência do desprezo a ações de planejamento público de longo prazo nos últimos 30 anos. O atropelo das decisões, as contínuas revisões orçamentárias e a escassez de projetos consistentes de engenharia e de viabilidade econômica reforçam as suspeitas de que os brasileiros aplaudirão o charme da "Copa do puxadinho".
*Economista, diretor do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômio e Social, professor da FAE.
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