O então "fenomenal" Ronaldo ajuda o goleiro alemão Oliver Kahn a se levantar na decisão da Copa de 2002.| Foto: Edson Silva/ Gazeta do Povo

Uma Copa esquisita. Eis uma forma simplista, mas honesta, para definir o Mundial de 2002 – aquele que terminou antes de um animado almoço dominical no Brasil.

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Não bastasse a exótica experiência de dividir o evento entre dois países que não falam a mesma língua, não usam a mesma moeda e divergem em muitos aspectos, o torneio ficou marcado por episódios incomuns.

Começou com Senegal derrubando a França, superfavorita, no jogo de estreia (1 a 0). O início dos dias, de acordo com o horário de Brasília, foi cada vez mais surreal. Às 3h30 da matina, viu-se a Suécia eliminar a Argentina (1 a 1).

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No jogo eliminatório de oitavas de final, mais zebra: os sul-coreanos, com a ajuda da arbitragem, despacharam a Itália com um gol na morte súbita (2 a 1). A bola rolava a partir das 8h30, menos mal.

O Brasil de Felipão não passou impune às peculiaridades da disputa com sede na Coreia do Sul e Japão. Mesmo desacreditado, venceu os sete jogos. Até hoje, apenas essa seleção alcançou tal façanha – o timaço de 70 também foi campeão com 100%, mas em seis duelos.Após 72 anos de Copas e 643 partidas (pesquisei, claro), brasileiros e alemães se enfrentariam pela primeira vez em um Mundial. E logo na final. Agora, maluco mesmo é dizer que o encontro de gigantes seria secundário. Segundo plano elevado à enésima potência, diante de Ronaldo.

Tostão escreveu em sua coluna na edição do dia 30 de junho de 2002: "Hoje é o grande dia da carreira de Ronaldo. Ele esperou por esse momento durante quatro anos. Ninguém mais do que ele merece esse título."

Não vale a pena lembrar o martírio do atacante. Naquela manhã brasileira, o camisa 9 marcou os dois gols (2 a 0, Brasil). Saiu de campo às lágrimas. Desde 1950 (outra marca sui generis da edição asiática), o país não fazia um artilheiro. O Fenômeno, com oito bolas na rede, chegou lá – igualando a façanha do Queixada, Ademir de Menezes.

Acompanhar a Copa de 2002 foi a minha primeira grande experiência como jornalista. Fiquei intrigado, apesar de todo o meu esforço profissional, com o meu deslumbramento e emoção diante desse fantasioso roteiro. Com o passar do tempo, ao relatar os fatos, acho que pulsei junto com todas aquelas surpresas.

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Terminei meu trabalho, por volta das 7 horas da manhã seguinte ao jogo, em Yokohama – no relógio da redação desta Gazeta do Povo, eram 19 horas do dia em que Cafu levantou a taça emocionado.

Agora luto bravamente para não deixar escapar da memória todas as cenas. Aposto piamente que essa história – cheia de episódios que arrancam aquele "a-ham" desconfiado – vai precisar de testemunhas oculares em um futuro bem próximo. Fui um dos poucos. Um orgulho, outra loucura!

Rodrigo Fernandes participou da cobertura da Copa do Mundo de 2002, na Coreia do Sul e no Japão. Atualmente é editor de Esportes da Gazeta do Povo.

Leia também o depoimento do colunista Edson Militão.