No cargo há cinco meses, Tite conseguiu algo raro para técnicos no futebol brasileiro: ter o apoio (quase) irrestrito dos torcedores. Na última quinta-feira (10), quando teve seu nome anunciado no sistema de som do estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, antes da partida diante da Argentina, ele foi tão aplaudido quanto Neymar, principal estrela brasileira. Ainda durante o jogo, a torcida cantou um “olê, olê, olê, Tite, Tite”.
Na sexta-feira, foi um dos mais celebrados pela torcida que ficou de plantão na porta do hotel da seleção, na capital mineira. Tirou muitas fotos e ouviu que é “o melhor treinador do Brasil” mais de uma vez.
Essa “Titemania”, como muitos vem definindo o momento pelo qual passa a seleção e seu treinador, é reflexo da recuperação de um time que estava desacreditado. Em dois anos, teve 7 a 1 em uma Copa do Mundo em casa, teve eliminação precoce em duas Copas Américas seguidas e teve o Brasil figurando fora da zona de classificação para um Mundial, algo que seria inédito na história do futebol. Sem vitórias, sem empatia e com a CBF envolvida em polêmicas a todo momento, a seleção via a sua torcida se afastar.
Bastaram cinco vitórias seguidas e algumas apresentações de alto nível para o entusiasmo do torcedor reaparecer. E é para Tite que grassa a maior parte dos agradecimentos. Zagueiro da seleção nas Copas de 1986 e 1990, Mauro Galvão é direto. “Acho que o Tite demorou a assumir a seleção, em uma daquelas coisas que só acontecem por aqui. O melhor treinador do Brasil precisa treinar a seleção”, comentou.
“O que era diferente era o que acontecia antes, com jogos abaixo do nível, o Brasil tomando sete, atuações ruins, jogo confuso, jogadores sendo chamados que a gente não entendia como. Eram várias situações muito estranhas”, avaliou Mauro Galvão. “Hoje dá gosto de ver o Brasil”.
Tricampeão mundial com a seleção de 1970, Clodoaldo analisa da mesma forma. “Além da questão técnica, se percebe que a seleção melhorou muito na questão emocional”, disse o ex-volante. “Antes das vitórias era um time que o torcedor brasileiro nem acreditava. Hoje é diferente. O próprio emocional nosso, do torcedor, está diferente”.
Clodoaldo considera que Tite tem papel fundamental nessa nova fase. “A torcida já cobrava desde a época do Dunga. Eu trabalhei lá um período (foi auxiliar técnico pontual da seleção em maio de 2015) e até comentei com o Gilmar Rinaldi (ex-coordenador-técnico) que a gente precisava de uma seleção mais com cara de Brasil. Isso está acontecendo agora. O torcedor está entusiasmado, acreditando muito no trabalho do treinador e na capacidade do grupo”.
Meia da seleção na Copa de 1974, Ademir da Guia resume o sucesso de Tite perante o público. “Torcedor conhece futebol. Não dá para enganar. Se a equipe está bem, a torcida vai apoiar e ter confiança”, ponderou. “O Tite foi a melhor escolha e ele está provando que merece. Isso é o que o mais importa”.