O Coritiba conhece o atalho para se obter um milagre no futebol. Há exatamente dez anos – em uma história similar à vivida agora – o clube recorreu às orações e à fé (além da mala-preta). E deu certo.

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Corria a terceira semana de novembro, em 1995. O Coxa estava praticamente eliminado da fase semifinal na Série B. Na última rodada, tinha de vencer o Ceará (fora) e torcer para o tropeço do Remo contra o já classificado Mogi Mirim (em Belém). Poucos acreditavam nessa combinação de resultados.

Com gols de Zambiasi e Marquinhos Ferreira, o time paranaense bateu os cearenses por 2 a 0, no Presidente Vargas, perante apenas 861 torcedores. Após o triunfo, todos os jogadores se reuniram no centro do gramado para esperar o resultado do duelo no Pará. Os paulistas, mesmo sem ambição, empataram por 0 a 0 com os paraenses. O placar trouxe alívio e culminou, no mês seguinte, na ascensão coritibana à Primeira Divisão.

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"Era uma situação muito difícil. Todo mundo achava que o Mogi iria amolecer. Colocamos na cabeça apenas uma situação: faremos a nossa parte, o resto será conseqüência", recorda o ex-atacante Pachequinho, atualmente técnico do juvenil alviverde. "Ficamos dentro de campo ouvindo pelo rádio a partida do Mangueirão. Quando terminou, foi uma festa."

A cena também não sai da mente do ex-goleiro Renato, hoje preparador das categorias de base do Paraná. "Foi inacreditável. A gente acompanhando o jogo de Belém e o Remo perdendo um gol atrás do outro embaixo da trave", reforça.

Mas para chegar a essa classificação, o Coritiba trabalhou muito nos bastidores. Edson Mauad, responsável pelo departamento de futebol, ofereceu uma gratificação financeira para o Mogi (que poupava muitos titulares) para a todo custo segurar o adversário.

O cuidado com fatores extracampo era uma obsessão dos dirigentes da época. Nenhuma artimanha ficou de lado. "Eu ia semanalmente ao Rio para cuidar da escala de árbitros. Tinha medo do Dalmo Bozzano (juiz do quadro catarinense)", confessa Joel Malucelli, um dos responsáveis pela administração coxa-branca em 95.

Para Malucelli, o momento atual também requer um doping financeiro. "Estamos diante de uma situação parecida. É a hora de conversar com as equipes que podem nos ajudar dentro de campo. Esse incentivo é praxe. Infelizmente, precisa fazer isso", completa.

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O renascimento na Segundona foi marcado ainda por alguns problemas internos. O técnico Paulo César Carpegiani acabou demitido justamente às vésperas dessas decisões. Uma derrota por 1 a 0 para o Mogi se tornou a gota d’água para a queda do treinador – que já no intervalo desse duelo havia jogado a toalha em público.

Dirceu Krüger pegou o grupo desacreditado para evitar o iminente revés. "Usei muita psicologia. Foi um feito, realmente", conta o Flecha Loira, atual coordenador das categorias de base do Coritiba.

Depois da classificação ao quadrangular final, Lori Sandri pegou o cargo – Krüger, empregado com carteira assinada no Alto da Glória, não quis ser efetivado. Com o novo comando durante o quadrangular final, foram seis jogos, três vitórias, dois empates e uma derrota. Uma verdadeira arrancada pós-milagre.

No dia 13 de dezembro, em um Atletiba, o Coxa terminou aquele martírio. Subiu ao vencer o rival por 3 a 0. Era a sonhada vaga entre os grandes. Posição sob séria ameaça nesta tarde.

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