Jayme Netto Júnior (à esq.): arrependimento| Foto: Valeria Gonçalvez/AE

São Paulo - A Comissão de Inquérito criada especialmente pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) começou a ouvir ontem, em São Paulo, os envolvidos no maior escândalo de doping do atletismo brasileiro. No primeiro dia, os atletas Jorge Célio, Bruno Lins, Lucimara Silvestre, Josiane Tito e Luciana França prestaram depoimento e reafirmaram o uso da substância proibida EPO – por terem admitido a culpa, eles já estavam suspensos por dois anos.

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No depoimento, Lucimara afirmou que não sabia estar injetando substâncias proibidas em seu corpo, mas explicou que o técnico Jayme Netto Júnior, que também já confessou a culpa, tinha conhecimento do doping, embora não considerasse que seus atletas corriam perigo. "Disseram a ele, no caso o Pedro (fisiologista Pedro Balikian Júnior, que é acusado de fornecer a EPO), que havia mil por cento de chance de não sermos pegos", contou a atleta.

Segundo ela, a substância proibida – injetada quatro vezes em sua barriga – era usada só em treinos. Lucimara também contou detalhes do anúncio de seu doping, em agosto, pouco antes da disputa do Mundial de Atletismo de Berlim. "Falaram que eu e outros atletas tínhamos dado positivo e existiam ainda outros dois casos suspeitos sob investigação. A Evelyn (Evelyn dos Santos) admitiu que tomou as injeções, mas a outra atleta que teve resultado semelhante jurou de pés juntos que não usou nada."

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Josiane Tito, por sua vez, declarou que acreditava ser aminoácido a substância injetada pela primeira vez em seu corpo justamente no dia do exame antidoping surpresa, realizado em 15 de junho, em Presidente Prudente (SP). "Tomei uma hora antes", lamentou. Para a atleta, a pessoa capaz de esclarecer o caso é o fisiologista Pedro Balikian Júnior, que ainda não declarações sobre o caso. "Todos nós tentamos falar, mas ele sumiu. Acho que ele deveria se apresentar para assumir suas responsabilidades."

Um dos principais protagonistas do escândalo, Pedro Bali­­kian Júnior não prestou depoimento na Comissão de Sindi­cân­cia da Universidade Esta­dual Paulista (Unesp), em Pre­si­dente Prudente, onde também acon­tece uma investigação sobre o caso. Ele apresentou atestado médico por meio de seu advogado informando estar com gripe suína – será convidado a depor novamente na instituição, onde é funcionário, dentro de 15 dias.

Assim, foram ouvidos dois envolvidos no caso que são funcionários da Unesp, os técnicos Jaime Netto Júnior e Inaldo Sena. Eles eram responsáveis pelos cinco atletas flagrados no exame antidoping e, logo depois do resultado positivo, confessaram participação.

Inaldo Sena saiu do local sem dar declarações. "Olha, se você ficasse uma semana no meu lugar, ficaria igual a um avestruz (com a cabeça enfiada em um buraco)", limitou-se a dizer o treinador.

Jayme Netto Júnior demorou quase duas horas reunido com a comissão da Unesp. "Te­­nho a minha co-responsabilidade em permitir o uso da substância em três dos meus atletas. Acreditei que não tivesse problema e que não havia risco", disse o treinador. "Se pudesse voltar no tempo, ja­­mais faria isso novamente."

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