Everton Costa está gripado. O ano é 2013, e ele está emprestado pelo Coritiba ao Santos. Uma simples gripe, que não teria maiores consequências além de espirros e dores no corpo, foi a responsável por desencadear uma reação em seu organismo que acabaria o tirando do futebol.
No dia 16 de abril de 2014, Everton saiu de São Januário direto para um hospital depois de apresentar um quadro de arritmia cardíaca, durante uma partida contra o Resende, pelo Campeonato Carioca. O problema tinha como causa uma miocardite (uma inflamação do músculo cardíaco), que, por sua vez, foi originada por uma doença de base séria, segundo uma fonte ouvida pela Gazeta do Povo. Em pacientes com essa doença não revelada pela fonte , uma prosaica gripe pode resultar em um problema mais sério.
Em julho do ano passado, Everton Costa foi submetido a uma cirurgia para a implantação de um desfibrilador em seu coração. O aparelho, chamado de Cardioversor-Desfibrilador Implantável (CDI), é colocado logo abaixo da clavícula, de onde dois fios seguem para o coração. Ele dispara um choque quando a pulsação ultrapassa um determinado limite. Pode, e deve, ser ajustado individualmente, após vários exames, de acordo com a capacidade física de cada paciente.
Logo após a cirurgia, Everton se mostrava animado e dizia querer seguir o exemplo de Washington, ex-atacante que foi artilheiro do Campeonato Brasileiro de 2004 pelo Atlético, mesmo depois de passar por um grave problema cardíaco que quase o fez encerrar a carreira precocemente.
A questão é que a condição médica de Washington era diferente, apesar de grave. Hoje, as diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia e da Sociedade Brasileira de Cardiologia do Esporte não recomendam a prática de esportes de contato, profissionalmente, por pessoas que tenham o CDI implantado. "Não tem condições", diz Nabil Ghorayeb, presidente do departamento de exercícios e esportes da Sociedade Brasileira de Cardiologia e editor da diretriz sobre o tema. "Pela literatura médica, pelo código penal, não é recomendado. Pode soltar os fios só com o movimento. Existe risco de acidente em que o aparelho para de funcionar", alerta.
Por isso, aos 29 anos, Everton Costa deve encerrar sua carreira assim que terminar seu contrato com o Coritiba, em julho deste ano. Segundo Ernesto Pedroso, vice-presidente de futebol do Coxa, seis laudos médicos três do Alviverde e três do Vasco desautorizam a volta de Everton Costa aos gramados. "Ele também acha melhor parar e a família também."
De acordo com Pedroso, após o meio do ano, Everton Costa iria trabalhar na comissão técnica do Caxias, onde Washington é vice de futebol ele também é vereador da cidade gaúcha. O presidente do Caxias, Mário Rech Filho, disse desconhecer tal fato, mas que era possível somente Washington estar ciente da movimentação. Procurado pela reportagem, Washington não foi encontrado.
O cardiologista Gustavo Gouvêa, chefe da unidade Coronariana da Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, que acompanhou Everton Costa enquanto ele esteve no Vasco, acha que ele poderia continuar jogando profissionalmente. "Essa diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia é baseada numa recomendação americana de dez anos atrás. E dez anos em cardiologia é muito tempo", afirma.
Gouvêa admite que sempre vai existir o risco de uma arritmia. "Mas com os remédios e o desfibrilador, o risco seria aceitável." Ele cita um estudo feito em 2013 e publicado na Circulation, uma das mais respeitadas revistas médicas do mundo, com mais de 300 atletas usando desfibrilador, no qual não foi registrada nenhuma morte. "Por volta de 12% tiveram arritmia novamente. Todos sobreviveram."
Rubens Darwich, cardiologista do Hospital Santa Cruz, de Curitiba, é taxativo quanto à possibilidade de permitir um paciente seu com desfibrilador praticar um esporte profissionalmente. "Não. A recomendação é de que quem possui cardiopatias não deve exercer atividades físicas de competição, onde o futebol profissional se enquadra."
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