O preço de uma vitória na Série Prata com um pênalti duvidoso incluído no pacote pode custar a bagatela de R$ 1.750. É o que garante o ex-dirigente do Marechal Cândido Rondon, Gílson Carlos Pacheco, 60 anos, que disse à Gazeta do Povo ter dado exatamente essa quantia ao árbitro Sandro César da Rocha (um dos supostos envolvidos no esquema de corrupção no apito), em agosto de 2003. O pagamento, garante ele, foi dado em espécie, pessoalmente, com 35 notas de R$ 50.
"Entreguei o maço de dinheiro em frente ao hotel que o juiz estava hospedado", confirma Pacheco. Com o "acerto", seu time bateu por 1 a 0 o Cianorte pela Série Prata do ano retrasado. O gol que definiu o resultado foi anotado graças a uma penalidade máxima, aos 31 minutos do segundo tempo.
O jogo era válido pela sétima rodada do hexagonal decisivo da competição. As duas equipes brigavam pela segunda vaga à elite estadual de 2004 (o Nacional de Rolândia já estava praticamente assegurado, bastava uma vitória em três jogos). No término da disputa, mesmo com a manipulação desse resultado, o Cianorte terminou na frente e subiu à Série Ouro. O Marechal ficou dois pontos atrás do rival.
Tal suborno só veio à tona ontem à tarde. Após acompanhar o noticiário sobre o chamado mensalão do apito, o ex-dirigente decidiu encaminhar ao Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-PR) uma declaração relatando o episódio. "Chegou a hora de acabar com essa máfia", diz. Para reforçar a denúncia, fez questão de autenticar em cartório o documento.
"O que aconteceu foi uma extorsão. Se nós não pagássemos, seríamos prejudicados. O dinheiro não era meu acho que pertencia ao clube. Fiquei apenas encarregado de repassá-lo ao juiz. Ele me falou que iria dividir o pagamento em quatro partes, mas não falou quem eram os outros três beneficiados", conta.
"Depois desse episódio, decidi largar o futebol. Hoje sou funcionário público, assessor do presidente da Câmara dos Vereadores de Marechal. Fiquei decepcionado", completa.
No depoimento do também apitador Ito Ranov ao TJD-PR, na terça-feira passada, essa história já havia sido levantada. Um dia depois, em entrevista à Gazeta do Povo, Sandro César da Rocha chegou a ser irônico ao negar a insinuação do colega. Falou que se houve negociação, não o avisaram. "Quem pagou ficou sem o prêmio", argumentou.
Nesta sexta-feira à noite, logo após o auditor Otacílio Sacerdote Filho comunicar o recebimento da carta atestando a acusação, a reportagem tentou entrar em contato com Rocha, mas seu telefone celular estava desligado. Diante da suspeita, o juiz tem presença garantida no relatório que aponta os envolvidos na máfia do arbitragem. A lista deverá incluir outros dez nomes.
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