Sandro Gaúcho subiu tão livre na área que seus olhos puderam seguir atentamente o caminho da bola até o fundo da rede. Mas foi a audição que lhe deu a dimensão do efeito do seu cabeceio. "O estádio ficou totalmente calado. Só os 300 andreenses festejando lá no fundo. Todo mundo ouviu o meu grito, o grito do Romerito, que estava ao meu lado. Uma sensação única", descreve o ex-atacante, hoje técnico de futebol desempregado; há nove anos, carrasco de mais de 70 mil flamenguistas.
O gol de Sandro Gaúcho desestabilizou um Flamengo pronto para ser campeão. Elvis ainda faria o segundo. O Santo André, com uma improvável vitória por 2 a 0, reverteu a vantagem construída pelos cariocas com o empate por 2 a 2, em São Paulo. Venceu a Copa do Brasil pela primeira vez na sua história. E tirou do Fla a última chance de dar uma volta olímpica diante da geral do Maracanã, espaço democrático que seria desmanchado em 2005.
O Atlético tentará repetir o feito do Ramalhão. Vencer a primeira Copa do Brasil de sua história, no Maracanã lotado, com o Flamengo carregando a vantagem do 0 a 0. O bônus: ser o primeiro clube campeão no estádio após a reforma para a Copa-2014. Um campeão estraga-prazeres. O penetra em uma festa pronta para os donos da casa. Algo comum na trajetória de 63 anos do estádio.
A primeira final do Maracanã terminou em decepção para os 173 mil torcedores presentes. De virada, o Uruguai venceu o Brasil por 2 a 1 e sagrou-se campeão mundial em 1950. "Somente três pessoas silenciaram o Maracanã: o Papa, Frank Sinatra e eu", diria, anos mais tarde, Alcides Ghiggia, autor do gol da vitória celeste.
A lista ganhou nomes menos ilustres. Carlos Miguel, autor do título gremista na Copa do Brasil de 1997, contra o Flamengo. Edmundo e o pênalti chutado nas nuvens, que deu ao Corinthians o Mundial de Clubes de 2000 contra o Vasco. Sandro Gaúcho, o carrasco flamenguista de 2004. Cevallos, o goleiro da LDU que pegou três cobranças do Fluminense na Libertadores-2008. E outro goleiro, Emerson Ferreti, o herói do Juventude perante mais de 100 mil botafoguenses na final da Copa do Brasil de 1999.
"Foram 90 minutos de pressão. O Juventude mal passou do meio-campo", relembra o ex-camisa 1, hoje presidente do Ypiranga-BA. O Ju havia vencido por 2 a 1, em Caxias do Sul. Jogava pelo 0 a 0. Placar alcançado por saber usar a seu favor a pressão de um Maracanã lotado.
"Depende muito do comportamento da torcida. Se o público começa a demonstrar impaciência, vaiar, isso interfere no emocional dos atletas negativamente. Amarramos o jogo para forçar essa situação", lembra Emerson.
Saber aproveitar as oportunidades é outro ponto fundamental. Especialmente quando o seu time está obrigado a ganhar, caso do Santo André de 2004 e do Atlético de 2013. "A dica é não perder o foco nunca. O gol veio na nossa primeira chance. Depois, tomamos as rédeas do jogo", sugere Sandro Gaúcho, ansioso por ganhar nova companhia da lista dos que calaram o Maracanã.
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