Aplicar um conceito de futebol ofensivo, deixando a "pegada" em segundo plano, custou a cabeça do novato técnico Vagner Mancini, em 2008, no Grêmio. Amanhã, às 21h50, contra o mesmo clube que o demitiu ainda invicto após 43 dias, o agora calejado treinador busca levar o Atlético a uma inédita final de Copa do Brasil.
Jogador gremista entre 1995 e 1997, com uma Libertadores e um Gauchão no currículo, o paulista de Ribeirão Preto não escondeu a mágoa pela maneira com que deixou o Estádio Olímpico. A notícia lhe foi dada um dia após a vitória fora de casa sobre o Jaciara-MT, por 1 a 0, pela Copa do Brasil. Até então, sua equipe havia vencido outras três vezes e empatado duas com 77,7% de aproveitamento.
No lobby do hotel onde morava na capital gaúcha, soube que perdera o cargo através do então diretor-executivo Rodrigo Caetano. A decisão havia sido tomada em conjunto pelo presidente Paulo Odone e o diretor de futebol Paulo Pelaipe, que comandavam o clube à época.
"É claro que ele ficou magoado. Ninguém gosta de ser demitido", relembra Odone, hoje deputado estadual, em entrevista à Gazeta do Povo. "Houve divergências sobre o estilo de jogo. Ele queria jogar de uma forma que não era tradicional [para o clube]", acrescenta.
Admiradora de um sistema de jogo baseado principalmente na força e na raça, a diretoria gremista acreditava que o time de Mancini atacava em demasia. O próprio comandante confirmou seu estilo em entrevista ao jornal Zero Hora, quando prometeu nunca mais trabalhar com Odone e insinuou que a diretoria tentava interferir na escalação dos atletas.
"Sou ofensivo mesmo. Quem me trouxe deveria saber. Não jogo retrancado e isso incomodou geral", desabafou Mancini na edição de 16 de fevereiro de 2008 do periódico gaúcho.
Na saída, ao menos, o treinador não ficou de mãos vazias. Por quebra de contrato unilateral, o Tricolor teve de pagar R$ 550 mil de multa rescisória. Celso Roth foi o seu substituto.
Depois da conturbada passagem pelo Rio Grande do Sul, Mancini assumiu o Vitória. O título do Baiano de 2008, ao lado do Cearense de 2011, pelo Ceará, foram suas únicas conquistas desde então. Em Brasileiros, porém, o retrospecto do técnico era ruim até a chegada ao Atlético, com participação, inclusive, no rebaixamento de Guarani (2010) e Sport (2012).
No Furacão, curiosamente, Mancini abriu mão da ofensividade total em prol de uma equipe marcadora e rápida, mas que ainda sabe balançar a rede. E que hoje agradaria até aos rivais de Copa do Brasil. "Hoje ele tem um time equilibrado. Não teria restrição nenhuma a esse futebol dele. Era preciso equilibrar a questão técnica", fecha Odone.
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