Hauer, Essenfelder, Iwersen, Obladen, Dietrich... Um século após a fundação do clube, os sobrenomes dos primeiros coritibanos continuam espalhados pelo Couto Pereira quando o Coxa está em campo. Todos com orgulho ao falar dos importantes antepassados. Ainda mais em clima de centenário.
A marcante reunião no Teatro Hauer, onde nasceu o Coritiba, por exemplo, foi assunto de inúmeras reuniões familiares. Na que dava nome ao estabelecimento, ainda provoca relatos empolgados. "Além de termos quatro integrantes da família no time, imaginamos que tenha sido escolhido por ser um espaço popular. Eram realizados espetáculos e bailes grandiosos lá", descreve Marcos Hauer.
Ele é filho de Willy Hauer, primo de Alfredo, Arthur, Alvin e Waldemar, que posam na foto da primeira equipe. "Mas era de 1895. Ainda não tinha idade para participar. Depois acabou jogando também. Na época era muito amigo do Waldemar, aquele que aparece com a cara toda machucada", conta, sem saber esclarecer o que aconteceu com o parente. "Acho que o pessoal lá de Ponta Grossa andou acertando ele", brinca, se referindo ao primeiro jogo.
A história o impedia de torcer por outro time. Aos poucos foi se aproximando da cúpula diretiva. Em 1983 chegou a disputar uma eleição histórica contra Evangelino Costa Neves pela primeira vez alguém enfrentou de fato o Chinês nas urnas.
Marcos e o filho Gustavo continuam diretamente ligados à diretoria, como vice-presidente e diretor de marketing, respectivamente. Também trabalha no clube Oswaldo Dietrich, ex-presidente da torcida organizada Império Alviverde, cujo avô era primo de Walter Dietrich.
Outras famílias se afastaram naturalmente do poder. Mas nem por isso deixaram a paixão de lado. Nem as histórias. Muitas delas ficaram registradas nas atas escritas pelo primeiro secretário Leopoldo Obladen, avô de outro Leopoldo, que até hoje guarda com carinho a cópia da ata de fundação.
"Está tudo registrado. Meu avô era dono de uma fábrica de camas e deu as madeiras para fazer a cerca do campo. Também para as caixas de carregar o material", conta. "Outro registro interessante é o de que os jogadores eram multados caso se atrasassem para pegar o ônibus, de linha. E olha que eles nem recebiam salário", acrescenta Leopoldo, feliz com a ligação do tio, Nicolau Obladen filho do ex-primeiro secretário , avisando sobre um convite de homenagem para a família.
Entre os Essenfelder, a maior recordação é a bola trazida por Frederico, o Fritz. "Mas, embora ele tenha sido o principal responsável pela fundação do clube, era jovem demais para bancar algo assim. Desconfiamos que o Floriano, irmão mais velho e dono da fábrica de pianos, tenha sido um dos idealizadores", diz Cezar Essenfelder, bisneto de Floriano. "Como havia um campo perto da fábrica, a diversão era jogar lá."
Cezar ainda relata uma história surreal. "O Guido, também da família, era piloto de avião e dizem que ele dava voos rasantes para assustar os adversários. Teve uma vez que voltou da praia e jogou um monte de tainhas neles. Era louco pelo clube. Tanto que, alguns anos depois, cassaram sua licença para pilotar."
Arthur Iwersen Neto carrega o nome do fundador que cedeu o campo para o segundo estádio, o Parque Graciosa, no Juvevê. "Meu pai foi conselheiro e eu continuo torcendo. Lembro de ouvir falar do campo, das arquibancadas de madeira... e também que meu avô quebrou o joelho jogando", recorda.
Histórias que não param por aí. Nos anos seguintes, milhares de jogadores vestiriam a camisa coritibana. E seus descendentes não cansam de lembrar. "Sou neto daquele goleiro dos anos 50" ou "Meu tio foi campeão na década de 70" foram algumas das frases ouvidas às vésperas do aniversário coxa-branca.
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