Organizada
Pivô da pancadaria, Império alega que aprendeu com o erros
Atual presidente da Império Alviverde, principal organizada ligada ao Coritiba, Reimackler Alan Graboski estava entre os invasores em 2009. Ele ficou seis meses preso por causa do ocorrido e aguarda em liberdade o julgamento. Para ele, a lição foi aproveitada pela torcida, que aprendeu com os erros. "Faz três anos que estamos [o Coritiba] brigando para não cair e nada aconteceu. A gente foi inclusive cobrado pelos torcedores. Mas invadir treino ou usar a violência não resolve", diz Graboski.
Para evitar que casos como de 2009 se repitam, a conversa com os jovens tem sido o melhor remédio. "Fazemos várias reuniões para ressaltar que todos evitem qualquer violência", explica.
Desde a invasão do estádio, o incidente mais grave envolvendo a facção ocorreu em março deste ano. Voltando de Londrina, alguns torcedores saíram de uma loja de conveniências carregando bebidas e sorvetes, entre outros itens, sem pagar. "Foi um triste episódio, custou R$ 4 mil e mais algumas cestas básicas", admite Reimackler.
Um dos responsáveis pela reaproximação com a diretoria do clube, há dois anos, após um período proibida de entrar caracterizada no estádio, ele defende que o combate à violência passa pela punição aos torcedores brigões e não às torcidas organizadas. "Tem de punir o RG e não o CNPJ", defende.
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Anderson Moura é um sobrevivente. Tal qual o policial que saiu de campo carregado e ensopado de sangue ou a enfermeira que perdeu três dedos após a explosão de uma bomba mesmo estando a quilômetros do Couto Pereira, o estudante é um personagem clássico da barbárie que tomou conta do estádio coxa-branca naquele fatídico 6 de dezembro de 2009.
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O empate com o Fluminense por 1 a 1 selou mais um rebaixamento do Coritiba à Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro e desencadeou o episódio de maior violência já visto no futebol nacional. Moura sabe bem disso. São cinco anos de sofrimento.
Naquele dia, Moura, então com 19 anos, era um dos muitos alviverdes que não conseguiu ingresso e acompanhou boa parte da "final" do lado de fora do estádio. Entrou, com o irmão, quando os portões foram abertos, faltando cinco minutos para o apito final. Um policial, a cinco metros de distância, de dentro do campo, não hesitou e disparou em direção à arquibancada. Moura levou um tiro na cabeça e ficou entre a vida e a morte.
"Eu pensei: eles não vão querer atirar, estou na arquibancada. Vão atirar por quê? Ele foi e atirou", lembra o torcedor, que na época estudava Gastronomia.
"Todo mundo pensava que eu tinha morrido. Tiraram uma grade e me levaram para fora do estádio. A minha cabeça estava lavada de sangue, eu perdi massa encefálica", recorda.
Chegou a ser desenganado pelos médicos após a primeira de três cirurgias. Tinha apenas 1% de chances de sobreviver. Só não teve os aparelhos desligados porque a família, muito religiosa, acreditou que ele daria a volta por cima.
"A médica disse para a minha mãe que não tinha mais volta, estava cansada de ver gente vegetando", diz, lembrando que a UTI do Hospital Evangélico, onde estava internado, era comandada pela médica Virgínia Soares Souza, que responde na Justiça a acusações de supostas antecipações de mortes no local, caso que teve grande repercussão em Curitiba no ano passado.
Procurada, a advogada que defende a médica, Louise Mattar Assad, informou que "a obrigação do médico é alertar os riscos de um paciente. Ao citar os riscos, não significa aceitar esse fato. Tudo foi feito para manter a vida, tanto que sobreviveu e voltou para a família".
No total, foram 24 dias de tensão no hospital, sendo 19 na UTI. Teve de reaprender tudo. O mais difícil foi recomeçar a falar. Depois veio a vontade de andar. Tudo isso com a memória voltando aos poucos, a ponto de ficar assustado ao ver um chuveiro funcionando.
Moura ainda tem alguma dificuldade para falar e para movimentar o lado direito do corpo. Tem procurado retornar a vida. Aposentado por invalidez, faz um curso de administração e vende livros, principalmente religiosos, para ajudar na renda da família. Com a ajuda de uma professora, deve lançar em breve um livro relatando a história de sua vida.
Conta com uma pequena ajuda do Coritiba, que paga a fisioterapia do torcedor. "O Coritiba procurou ajudar dentro das suas possibilidades porque tinha os profissionais de fisioterapia, o que já seria um custo astronômico para o rapaz", afirma Vilson Ribeiro de Andrade, presidente do clube, lembrando que a responsabilidade pelo caso é da polícia Moura move uma ação na Justiça contra o Estado. E segue esperando pela punição dos envolvidos.
"Quem invadiu e quem atirou. Os dois têm de ser punidos", opina o torcedor, que não demonstra vontade de voltar a frequentar o Estádio Couto Pereira. Mesmo distante das arquibancadas, porém, segue acompanhando o Coxa do jeito que pode.
Maior decepção
Do atual elenco coxa, apenas o goleiro Vanderlei estava em campo há cinco anos . O arqueiro admite que aquele 6 de dezembro foi o pior dia nos sete anos em que está no clube. "Não só por termos sido rebaixados para a Série B, mas pelo ocorrido, pela briga, pela invasão do campo no Couto Pereira. Foi a maior decepção que eu passei até hoje no Coxa", admitiu.
Parte dos "brigões" irá a júri popular
Dos 14 torcedores identificados após a briga generalizada que tomou conta do Couto Pereira assim que foi decretado o rebaixamento do Coritiba, em 2009, metade recebeu penas brandas já cumpridas e a outra metade aguarda a Justiça marcar o julgamento. Ninguém está preso.
O grupo acusado de tentativa de homicídio recorreu da decisão da Justiça de levá-lo a júri popular. O pedido foi negado e o caso aguarda uma data para ser julgado.
A outra parte recebeu e já cumpriu sentenças alternativas em abril de 2011. Eles foram proibidos de voltar ao estádio por dois anos, além de alguns deles terem de pagar multa ao Coritiba e fazer serviços para a comunidade.
Polícia
Já entre os policiais, Claudio Roberto Pereira Ramos, responsável por atirar em Anderson Moura (leia mais ao lado), foi absolvido pela Justiça Militar.
Ele segue atuando normalmente, tanto que já em 2010 chegou a atuar como figurante no filme Tropa de Elite 2, quando 80 policiais foram escolhidos entre 500 inscritos para participar da produção.
A reportagem tentou entrar em contato com o policial, mas a assessoria de imprensa da PM não se manifestou até o fechamento desta edição.
Vítima de briga no Couto, em 2009, luta por recuperação
Anderson Moura, a maior vítima da selvageria, até hoje tenta se recuperar de um tiro de bala de borracha sofrido no Couto Pereira no dia do rebaixamento alviverde, quando ficou entre a vida e a morte.
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