O Coritiba pôs um jogador no Real Madrid, mas terá de esperar até dois anos para ver essa negociação virar dinheiro em caixa. O lateral-esquerdo Abner teve seu empréstimo aos espanhóis até junho de 2016 anunciado ontem, no site oficial do PSTC. Foi o clube londrinense que finalizou a transferência da revelação de 18 anos. O ponto final de uma história que ajudou o Coxa a fechar as contas do ano passado.
Apadrinhado no PSTC pelo lateral Rafinha, Abner foi orientado pelo jogador do Bayern a escolher o Coritiba, e não o rival Atlético, em 2011. Chegou ao Alto da Glória a custo zero, com 40% dos direitos econômicos repassados ao Coxa, 40% presos ao PSTC e 20% ao Grupo Employer.
Empresa de recursos humanos com sede em Curitiba, a Employer tem mais de uma década no futebol. Seu presidente, Marcos Aurélio Rodrigues e Silva, o Mars, é um dos acionistas do PSTC. Teve parte em todos os jogadores formados na pródiga fábrica de craques de Londrina. Kléberson, Jadson, Fernandinho, jogadores vendidos a altos valores para o exterior após passar pelo Atlético, renderam um porcentual ao empresário.
Em 2006 Mars ampliou sua atuação. Fundou o Capa (Clube Atlético do Paraná) como um apêndice das divisões de base do Atlético. Virou sócio do Furacão em jogadores formados no Sítio do Caqui, sede do novo clube, e também em outras equipes. O zagueiro Manoel, por exemplo, era 10% dele, 80% do Rubro-Negro e 10% do próprio jogador. No fim de 2013, surgiu como salvação para uma mina de ouro que parecia ter se perdido no Couto Pereira.
Destaque do Sul-Americano Sub-17, Abner sofreu uma ruptura de ligamentos do joelho esquerdo na terceira partida do Mundial da categoria. Além de mandar a revelação para o estaleiro por seis meses, a lesão estancou negociações em andamento com Manchester City e Benfica, além de esfriar o interesse da Roma. O clube italiano teria interesse em desembolsar 5 milhões de euros por ele.
"O investidor [a Employer], então, nos ofereceu 3 milhões de euros [R$ 8,97 milhões] pela nossa parte e 10% em uma futura negociação. Por um jogador jovem iniciando um longo processo de recuperação", explica o presidente do Coritiba, Vilson Ribeiro de Andrade.
O dirigente alviverde revelou essas condições de negócio à Gazeta do Povo em quatro oportunidades: pessoalmente, no intervalo de Brasil x Colômbia, no Castelão, em Fortaleza; por telefone um dia após Brasil x Colômbia, dois dias após a eliminação brasileira da Copa do Mundo e nesta segunda-feira (28). Na manhã desta quarta-feira (30), após a publicação da matéria, Vilson disse por mensagem de texto e telefone que foram 2 milhões de euros, não 3 milhões, como ele afirmara anteriormente.
Mais do que salvar um negócio que se tornara incerto no futuro, a oferta era solução imediata. Em novembro de 2013, quando Abner foi operado e vendido, o Coxa sofria sério risco de rebaixamento. Também procurava maneiras de fechar o ano com salário, 13.º e férias de jogadores e funcionários em dia.
"O Coritiba tinha uma necessidade grande naquele momento de sanar algumas pendências para não cair. Foi um negócio bom para todos", disse Mário Iramina, presidente do PSTC.
O clube de Londrina passou a ser o detentor dos direitos federativos de Abner em 30 de junho deste ano. Contrato de cinco anos, registrado logo após o jogador rescindir com o Coritiba. O lateral viajou para a Espanha na semana passada e ameaçou o negócio ao antecipar o acerto no Instagram.
Abner viajou para a Europa com visto de turista. Os merengues foram interpelados pela Federação Espanhola e disseram que não contrataram o jogador. Ontem, enquanto o PSTC festejava a transferência por empréstimo, o Real mantinha o silêncio. Só formalizará o acordo no início de agosto, quando o lateral voltar a Madrid com visto de trabalho, acompanhado da mãe (em definitivo) e do empresário (por algumas semanas).
A primeira tarefa de Abner será concluir a sua recuperação. Depois, começará a jogar no Real B, sob o comando de Zinedine Zidane. Se agradar, será comprado em definitivo. Aí sim, o Coritiba não só terá colocado um jogador no clube mais rico do mundo, como terá lucrado diretamente com isso. Seja com 10% do que ultrapassar os 2 milhões de euros pagos pela Employer. Seja com sua parte nos 5% partilhados entre os times formadores.
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